A importância do movimento para a saúde e longevidade

A importância do movimento para a saúde e longevidade

Por Dra. Ana Beatriz Galhardi Di Tommaso – Recentemente, estive no 21º Congresso Mundial de Geriatria e Gerontologia em São Francisco/Califórnia, promovido pela International Association of Gerontology and Geriatrics (IAGG). Considerado um dos mais importantes na área da geriatria e gerontologia, é promovido a cada quatro anos e reúne colegas de todo o mundo.


Estava pronta para assistir a inúmeras discussões sobre doenças cardiovasculares, osteoporose, demências (quem sabe até a cura do Alzheimer!?), mas o que vi e ouvi em praticamente todas as apresentações foi uma enxurrada de estudos sobre a necessidade do movimento.


A conferência Magna trouxe um painel do perfil de envelhecimento ao redor do mundo, reforçando a importância do estímulo à socialização. Sair de casa, conhecer pessoas diferentes, aprender atividades novas parece ser a chave para evitar que o isolamento social se transforme em uma epidemia. Muitos países estão promovendo, por exemplo, a interação entre idosos e jovens de diversas formas: levantamento de idosos que moram próximos a universidades para que disponibilizem quartos ociosos de suas casas aos jovens estudantes; reconhecimento das potencialidades dos idosos para que sejam produtivos em sua vizinhança fazendo trabalhos voluntários de forma mais prática (ex.: marceneiros podem contribuir com a reforma da mobília de escolas públicas ou com a produção de brinquedos educativos); avós que possuem netos já distantes podem voltar a ser “avós” por determinados períodos da semana em creches.


Diversas mesas-redondas, discussões de casos e apresentações de artigos reforçaram a necessidade extrema de atividade física programada para melhora da funcionalidade, em especial aquela voltada para o ganho e manutenção da massa muscular, tal como musculação ou pilates. Os chamados exercícios resistidos promovem melhora incontestável da marcha e do equilíbrio, com significativa redução do número de quedas e suas consequências sabidamente catastróficas.


Os exercícios aeróbios, do tipo caminhada, ciclismo e natação também foram amplamente discutidos como forma de promover proteção e melhora cardiovascular.


O mais interessante, no entanto, foi a constatação de que esses exercícios podem promover sedentarismo e até isolamento social a médio e longo prazo. Sei que parece muito difícil de compreender, porém existe uma razão lógica: muitos indivíduos dedicam-se a fazer exercícios programados em determinados períodos da semana, com atividades executadas de forma correta e regular, de acordo com a orientação de seus educadores físicos. Na sequência, retornam às suas casas ou partem para o trabalho e passam o restante do dia sentados com a tranquilidade de já terem cumprido a “obrigação” de movimentar-se. Usam o carro para ir até o mercado; descem no ponto de ônibus mais próximo às suas casas; permanecem horas na frente do computador. Com a desculpa de terem feito atividade física mais cedo, movimentam-se pouquíssimo no restante de suas jornadas.


Estudos sugerem que deslocamentos constantes ao longo do dia são tão importantes quanto os exercícios programados. Há grupos inclusive que orientam deambulações programadas diariamente com intervalos de repouso não maiores que 30 minutos!


Por conta disso, tão fundamental quanto estimular exercícios físicos programados é a orientação do movimento constante. Caso o paciente não possua nenhuma contraindicação clínica ou funcional, estimule caminhadas regulares ao longo de sua rotina, reforce o uso de escadas sempre que possível, oriente períodos de atividades laborais em pé (por exemplo: checar e-mail em uma bancada alta no lugar de mesa e cadeira).


Como mensagem final do Congresso, ficou a certeza de que o envelhecimento bem-sucedido só é possível se houver promoção à saúde ao longo de toda a vida. Movimentar-se deve ser um hábito, e não uma obrigação. Viverão melhor aqueles que encontrarem nas atividades e nos exercícios físicos a motivação para não ficarem parados. Esse parece ser o único segredo da longevidade.


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