A mídia eletrônica, a internet e a relação médico-paciente
- 20 de nov de 2017
Por Dr. Celmo Celeno Porto – A mídia eletrônica e a internet estão entrando cada vez mais fundo na intimidade do encontro clínico. São fatores externos que influenciam e podem até alterar a relação médico-paciente. A televisão invade nossas casas, nas mais variadas formas, não apenas com informações, mas também com histórias e imagens relacionadas com a saúde e com as doenças quase sempre explorando os aspectos exóticos ou emocionais. A televisão, mais do que os jornais, as revistas e o rádio, é um poderoso veículo de transformação do modo de vida. Nos programas de TV, sejam eles noticiários, novelas, filmes, tudo o que se refere à medicina é apresentado com ênfase especial nos equipamentos de diagnósticos e em novos tipos de tratamento. Não precisam apresentar resultados comprovados para merecerem destaque na mídia. O que se busca é despertar a curiosidade, a melhor maneira para segurar o telespectador naquele canal.
Por trás de tudo, podem ser entrevistos interesses comerciais das próprias emissoras de televisão ou de seus patrocinadores, os quais, na área de saúde, são as indústrias farmacêuticas e os fabricantes de material e aparelhos para diagnóstico e tratamento. Tudo camuflado por uma vistosa “roupagem” de que são informações indispensáveis para melhorar a saúde da população.
Tudo isso já existia e continua presente no rádio; contudo, este meio de comunicação se especializou nas coisas mais baratas, em medicamentos populares, boa parte deles, é bom que se diga, sem qualquer utilidade. Merecem a jocosa denominação de “tapiotróficos”, porque não passam de grosseira tapeação da boa fé da população.
A internet está ocupando outro espaço, no qual estão ocorrendo profundas modificações na relação dos pacientes com os médicos e demais profissionais da saúde.
Um número cada vez maior de pacientes tornou-se assíduo frequentador de sites de busca – o “Dr. Google”, é um dos preferidos –, nos quais buscam informações sobre doenças e tratamentos. Basta digitar algumas palavras para se obter uma quantidade imensa de informações. Com mais alguns cliques vão sendo abertos links em sequência imprevisível. O paciente vai lendo e vendo figuras sobre doenças, exames, medicamentos, cirurgias e muito mais. Pode tirar as mais estapafúrdias conclusões, fato que não é de se estranhar. Quando chegam ao consultório podem ter informações que o médico desconhece. Muitos médicos ficam perturbados diante destes pacientes, reagem com sarcasmo ou franca hostilidade, e se põem na defensiva com receio de serem considerados incompetentes, desinformados ou ultrapassados.
Ter informações, por si só, nada significa, podendo ajudar ou atrapalhar. Em contrapartida, é necessário aprender a enfrentar esta nova situação. É possível até tirar proveito dela. Em primeiro lugar, é nosso dever tirar as dúvidas e corrigir interpretações equivocadas que surgem justamente porque os pacientes não têm os conhecimentos básicos para entender de maneira correta a avalanche de informações que conseguem com alguns cliques.
Outra questão que surgiu com a internet é a criação, pelos hospitais e centros de diagnóstico, de sites onde ficam hospedados prontuários, fotografias, exames, laudos, ou seja, dados que podem se tornar públicos, invadindo a privacidade do paciente. Convém lembrar que, como estabelece o Código de Ética, os médicos, os hospitais e os centros de diagnóstico estão habilitados a guardar em seus arquivos, tradicionais ou eletrônicos, tudo o que foi originado daquele paciente. Não podem, contudo, torná-lo de acesso público. Se o fizerem estão cometendo um crime.
Com tantas informações, as incertezas do paciente tornam-se maiores e mais visíveis. Passam a ser verdadeiros desafios. É preciso deixar claro que a decisão diagnóstica é sempre do médico que assiste o paciente. Os laudos podem ter informações muito importantes, mas não são “decisão diagnóstica”. Aliás, um laudo, raramente, por si só, é suficiente para justificar uma proposta terapêutica. O laudo é apenas o reconhecimento de uma lesão ou disfunção, enquanto “decisão diagnóstica” é um processo complexo que envolve a pessoa como um todo, incluindo família, trabalho e plano de saúde. A padronização de condutas não tem valor absoluto, por mais que os administradores e os planos de saúde a desejem.
Cada vez mais, a mídia eletrônica e a internet vão fazer parte do encontro clínico. Não vejo razão para reclamar ou entrar em conflito com essas novidades. O que eu vejo é a necessidade de se preparar para esta nova situação e saber usá-las em benefício do paciente.
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