A Obesidade e as Doenças a Ela Associadas Aumentam no Brasil e as Alternativas de Tratamento Diminuem

A Obesidade e as Doenças a Ela Associadas Aumentam no Brasil e as Alternativas de Tratamento Diminuem

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 82 milhões de brasileiros acima de 18 anos de idade apresentam excesso de peso. Destes, mais de 30 milhões são obesos, adotando-se o critério do índice de massa corpórea (IMC), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS; Tabela 1). [1]


Tabela 1 Classificação da obesidade recomendada pela OMS, por graus progressivamente maiores de morbimortalidade, utilizando o IMC.


IMC (kg/m2) Denominação Grau de obesidade Risco de complicações
18,5 a 24,9 Eutrófico 0 Nenhum
25 a 29,9 Sobrepeso 0 Baixo
30 a 39,9 Obeso I/II Moderado a elevado
> 40 Obeso grave III Muito elevado

tabela1


Figura 1 Evolução do perfil antropométrico da população
adulta com 20 anos ou mais, de 2002 a 2013.
Fonte: IBGE, 2013.

O baixo peso em adultos brasileiros está muito abaixo do preconizado pela OMS (menos que 5%), principalmente quando se considera que 2% destes são magros constitucionais, e não desnutridos crônicos (em especial, as mulheres). No entanto, nota-se um alarmante aumento do excesso de peso e da obesidade, sem qualquer tendência de controle, tanto em homens quanto em mulheres. Nos homens, em um período de menos de 5 anos, houve crescimento de 50,9 para 57,3% do excesso de peso e de 12,7 para 17,5% da obesidade; em mulheres, essas mesmas categorias subiram de 49 para 59,8% e de 17,5 para 25,2%, respectivamente. [2]


Recentemente, um levantamento da tendência do IMC em quase 20 milhões de participantes de 200 países do mundo mostrou que, em 1975, o Brasil tinha 900 mil homens obesos e 1,9 milhão de mulheres obesas. Passados quase 40 anos, em 2014, tornou-se país mais obeso do mundo em relação aos homens (12 milhões, 4,5%) e o quinto em relação às mulheres (18 milhões, 4,8%). [3]


A obesidade está associada a cerca de uma centena de doenças e problemas de saúde em todos os órgãos e sistemas [4], incluindo maior susceptibilidade para o desenvolvimento de infecções pós-cirúrgicas mais complicadas e maior risco de contrair influenza H1N1 com desenvolvimento de quadros graves, independentemente da presença diabetes. A gravidade das infecções tende a ser proporcional ao IMC. Pessoas com IMC maior apresentam menos resposta a vacinas e drogas antimicrobianas. Além disso, são necessárias doses mais elevadas de antibióticos para que haja eficácia em pacientes obesos. [5]


Surpreendentemente, ainda que a prevalência da obesidade tenha aumentado 38% nos homens e 44% nas mulheres em menos de 5 anos [2], as opções terapêuticas de tratamento farmacológico sofreram uma dramática redução. Em 2011, haviam cinco medicamentos para a obesidade; agora, há somente a sibutramina e o orlistate [6], tendo sido retiradas três drogas do mercado.


No dia 29 de fevereiro de 2016, a liraglutida subcutânea na dose diária de 3 mg foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratamento da obesidade, mas ainda não está disponível no mercado. [7]


Referências bibliográficas


  1. World Health Organization. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO consultation. World Health Organ Tech Rep Ser. 2000;894:i-xii.
  2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Ministério da Saúde, 2015.
  3. NCD Risk Factor Collaboration (NCD-RisC). Trends in adult body-mass index in 200 countries from 1975 to 2014: a pooled analysis of 1698 population-based measurement studies with 19·2 million participants. Lancet. 2016;10026(387):1377-96.
  4. Mancini MC. Obesidade e Doenças Associadas. In: Mancini MC. Tratado de Obesidade. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
  5. Dhurandhar NV, Bailey D, Thomas D. Interaction of obesity and infections. Obes Rev. 2015;16(12):1017-29.6. James WP, Caterson ID, Coutinho W, Finer N, Van Gaal LF, Maggioni AP. Effect of sibutramine on cardiovascular outcomes in overweight and obese subjects. N Engl J Med. 2010;363(10):905-17.7. Medical Letter on Drugs and Therapeutics. Liraglutide (Saxenda) for Weight Loss. JAMA. 2016;315(11):1161-2.
  6. James WP, Caterson ID, Coutinho W, Finer N, Van Gaal LF, Maggioni AP. Effect of sibutramine on cardiovascular outcomes in overweight and obese subjects. N Engl J Med. 2010;363(10):905-17.
  7. Medical Letter on Drugs and Therapeutics. Liraglutide (Saxenda) for Weight Loss. JAMA. 2016;315(11):1161-2.


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