Afinal, o que é olho clínico?
- 3 de jul de 2017
Por Dr. Celmo Celeno Porto – Por certo, vez por outra ainda ouve-se falar em olho clínico. Mas, afinal, o que é isso? É uma antiga expressão aplicada àqueles médicos que tinham a capacidade de identificar, rapidamente, uma doença, mesmo não dispondo de bons recursos para se chegar a um diagnóstico. Esta época já passou, porém, a expressão “olho clínico” pode permanecer, só que precisa ser redefinida.
Então, o que seria “olho clínico”? Um complexo processo cognitivo que tem início quando nos deparamos com um paciente. Se tivermos, de fato, interesse em fazer um diagnóstico correto, ou seja, quando queremos saber o que está ocorrendo com aquela pessoa, entra em alerta máximo todos os nossos sentidos, ao mesmo tempo em que se utiliza, consciente ou inconscientemente, a base de dados que já temos armazenados em nossa mente. Em outras palavras: o que se chama “olho clínico” não passa de um processamento de dados pelo nosso cérebro, só que de modo extremamente rápido, mobilizando conhecimentos em nível inconsciente e experiências anteriores. Mal comparando, é como se o cérebro fosse um computador com vários programas armazenados e prontos para reconhecerem uma situação, igual ou parecida, já vista anteriormente. Portanto, podemos entender como “olho clínico” a capacidade de identificar indícios e encontrar pistas para tirar as melhores conclusões à medida que os dados vão surgindo, tanto com relação à doença como no que se refere ao paciente. “Olho clínico” não é adivinhação ou o simples resultado de nossa intuição, mas, sim, raciocínio dedutivo, só que em nível inconsciente.
Sob essa perspectiva, torna-se claro que uma decisão diagnóstica nunca pode resumir-se a uma parte dos dados, muito menos ser confundida com o que está escrito no laudo de um exame, por mais sofisticada que seja a máquina que o produziu. Não estou dizendo para se ignorar os laudos. Não! Precisamos deles, mas, não podemos ficar restrito a eles.
Para se fazer uma boa proposta terapêutica não se pode negar que o reconhecimento de uma “lesão” ou de uma “disfunção” é uma etapa fundamental, mas é necessário compreendê-la no contexto da vida do paciente. Melhor dizendo, é indispensável levar em conta tudo o que se relaciona àquela pessoa: família, trabalho ou aposentadoria, plano de saúde, local de residência, nível cultural, condições financeiras. Poder-se-ia até dizer que “olho clínico” é a capacidade de levar em conta todos esses fatores. Deste modo, o diagnóstico torna-se personalizado, ou seja, adquire significado específico para cada paciente.
Em suma, o médico não deve se preocupar em fazer diagnósticos rápidos a partir de uma simples “olhada” ao paciente. Isso não é “olho clínico”, é apenas um “palpite”. O bom médico aprende a considerar tudo que é relacionado com a doença – dados clínicos e laudos de exames –, e só então chega a uma conclusão. Se esta for a correta, pode-se dizer que ele tem “olho clínico”.
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