Bases do aconselhamento contraceptivo moderno

Bases do aconselhamento contraceptivo moderno

Diante da ampla variedade de métodos contraceptivos disponíveis, a orientação precisa, com ênfase nas necessidades individuais da mulher, particularmente relacionadas a estilo de vida, fatores de risco, benefícios não contraceptivos e eficácia, reveste-se de importância [1,2].

O aconselhamento contraceptivo moderno tem como pilares principais o foco na mulher, como elemento central, e o estímulo à discussão individual, permitindo a escolha do método por meio de decisão compartilhada [3,4].

Contudo, em relação ao número crescente de usuárias de métodos contraceptivos e da disponibilidade de formulações, muitas mulheres estão ainda sujeitas às gestações indesejadas e suas consequências. Nos Estados Unidos, estima-se que metade das mulheres, que tem gestações não programadas, refere o uso de algum método contraceptivo no mês em que a gravidez ocorreu [5].

Trussell et al observaram que naquele país, as taxas de gravidez indesejada foram de 9% durante o primeiro ano de uso típico para todos os contraceptivos hormonais combinados (CHCs) [6]. No Brasil, a prevalência do uso de anticoncepcional é de 76,7%, sendo em 62,7% para limitar o número de filhos, e 14% para espaçar os nascimentos [7]. Contudo, em regiões mais pobres do país, a prevalência relatada do uso de contraceptivos atinge somente 62%, cifra resultante do menor acesso aos serviços de planejamento familiar [8].

Além do problema de acesso aos métodos contraceptivos, o uso inconsistente tem importância particular sobre as taxas de falhas dos diferentes métodos. A baixa adesão, em geral, relaciona-se ao menor conhecimento das características do método, podendo associar-se à falta de motivação para o uso e, ainda, à insatisfação da mulher com o método contraceptivo escolhido [9,10].

Estudos mostram que, ao escolher um método contraceptivo, as principais preocupações das mulheres são: eficácia e segurança [9]. Assim, o aconselhamento contraceptivo deve ser simples, porém preciso, sendo muitas vezes responsável por mudanças na percepção de candidatas ao uso de anticoncepcionais quanto aos métodos previamente desejados ou escolhidos.

Uma vez que as ações preventivas no período reprodutivo da mulher são indicadores de qualidade na atenção primária em saúde, no Brasil, uma iniciativa da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) apresentou um modelo simples de aconselhamento contraceptivo denominado “Uma só pergunta”. A pergunta “Quando você quer engravidar?” traz a oportunidade de discutir alternativas viáveis de planejamento familiar, abrindo perspectivas para a melhor assistência preventiva em saúde reprodutiva.

Dessa forma, o aconselhamento contraceptivo moderno, baseado em prerrogativas simples, visa ressaltar aspectos de grande utilidade e impacto prático para mulheres sexualmente ativas no período reprodutivo.

Aconselhamento para mulheres no período reprodutivo 

 

  1. As medidas de atenção pré-concepcional, como o uso do ácido fólico, e as orientações sobre o uso do álcool, cigarro, além da abordagem de doenças crônicas visando menor exposição à medicações teratogênicas podem melhorar significativamente os resultados perinatais (Atrash HK et al. Preconception care for improving perinatal outcomes: the time to act. Matern Child Health J 2006;10:S3-S11)

 

  1. Contraceptivos orais combinados, pílulas de progestagênio, anel vaginal, adesivo contraceptivo, injetáveis mensais e injetável trimestral.

 

  1. Uso típico dos contraceptivos. Estima-se que as taxas de falha da vida real de métodos de curta ação atinjam 8%. Métodos de longa ação possuem índices de falha abaixo de 1% (Trussell J. Contraceptive failure in the United States. Contraception. 2011;83(5):397-404)

 

  1. Métodos de longa ação: dispositivo intrauterino de cobre (DIU de cobre), sistema intrauterino de levonorgestrel (SIU-LNG) e implante de etonogestrel.

 

Referências

  1. Dehlendorf C, Krajewski C, Borrero S. Contraceptive counseling: best practices to ensure quality communication and enable effective contraceptive use. Clin Obstet Gynecol. 2014;57:659-73.
  2. Dehlendorf C, Kimport K, Levy K, et al. A qualitative analysis of approaches to contraceptive counseling. Perspect Sex Reprod Health. 2014;46:233-40.

3 Wyatt KD, Anderson RT, Creedon D, et al. Women’s values in contraceptive choice: a systematic review of relevant attributes included in decision aids. BMC Women’s Health. 2014;14:28.

  1. Donnelly KZ, Foster TC, Thompson R. What matters most? The content and concordance of patients’ and providers’ information priorities for contraceptive decision making. Contraception. 2014;90:280–287.
  2. Jones RK, Darroch JE, Henshaw SK. Contraceptive use among U.S. women having abortions in 2000-2001. Perspect Sex Reprod Health 2002;34:294-303.
  3. Trussell J. Contraceptive failure in the United States. Contraception 2011;83:397-404.
  4. Tavares LS., Leite IC., Telles FSP. Necessidade insatisfeita por métodos anticoncepcionais no Brasil. Rev Bras Epidemiol. 2007;10(2)139‐148.
  5. Studart C, Homolova B, Fontes M, Laro R, Olson N. 2006. Contraceptive Procurement Policies, Practices, and Lessons Learned: Brazil. Arlington, Va.: DELIVER, for the U.S. Agency for International Development.
  6. Rosenberg M, Waugh MS. Causes and consequences of oral contraceptive noncompliance. Am J Obstet Gynecol 1999;180:S276-9.
  7. Rajasekar D, Bigrigg A. Pill knowledge amongst oral contraceptive users in family planning clinics in Scotland: Facts, myths and fantasies. Eur J Contracept Reprod Health Care 2000;5:85-90.

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