Câncer de pele no Brasil
- 4 de fev de 2020
Dados recentes revelam alta incidência de câncer de pele no país. Nesta entrevista para o Portal GEN Medicina, a Dra. Johanna Wagner Poti Sales comenta os últimos dados, medidas preventivas e tratamento.
GEN – Traçando um panorama do câncer de pele no Brasil, quais são os dados mais recentes?
JWPS – Um levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou que no Brasil, no biênio 2018-2019, ocorreriam 85.170 casos novos de câncer de pele não melanoma em homens e 80.410 em mulheres. Isso corresponde a aproximadamente 82.53 casos novos a cada 100 mil homens e 75.84 a cada 100 mil mulheres.
O câncer de pele não melanoma é o mais recorrente entre as mulheres. Entre os homens, fica em primeiro lugar nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e em segundo lugar nas regiões Nordeste e Norte. A maior incidência nos dois sexos ocorre na região Sul, com 160.08/100 mil homens e 97.46/100 mil mulheres. Já a menor incidência ocorre na região Norte, com 23.74/100 mil homens e 27.71/100 mil mulheres.
O melanoma apresenta alta letalidade, porém sua ocorrência é considerada baixa: são 2.920 casos novos por ano entre os homens e 3.340 entre as mulheres, também com taxas mais altas na região Sul.
GEN – A Sociedade Brasileira de Dermatologia realizou em dezembro a 21ª Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Pele. A programação atendeu 22.749 pessoas em 123 serviços de saúde do país. Entre as ações prestadas à população, foram diagnosticados 4.197 casos de câncer de pele. Em sua opinião, qual a representatividade desses dados?
JWPS – Essa quantidade elevada de casos era esperada. A campanha tem como foco conscientizar a população sobre o câncer de pele e é direcionada aos principais grupos de risco, tendo, assim, uma grande captação de novos casos.
Dessa forma, a representatividade estatística desses dados é prejudicada, uma vez que a população que busca o atendimento geralmente já apresenta alguma lesão suspeita ou se enquadra em um grupo de risco. A campanha é importante porque é direcionada para diagnosticar e tratar o câncer de pele desses pacientes, e a alta incidência observada é prova disso.
GEN – Qual o perfil das pessoas e as características demográficas mais propícias para o desenvolvimento da doença?
JWPS – Estão mais sujeitas à doença pessoas com peles de fototipo muito claro (pele e olhos claros, cabelos ruivos ou loiros), albinos, indivíduos com antecedentes familiares e/ou pessoais de câncer de pele e história de exposição prolongada e repetida ao sol (raios ultravioletas – UV), principalmente na infância e adolescência (esse é um dos motivos de a região Sul apresentar os maiores índices da doença).
No entanto, vale lembrar que qualquer pessoa pode desenvolver câncer de pele, incluindo aquelas com vitiligo ou em tratamento com imunossupressores, pois são mais sensíveis aos danos dos raios solares.
GEN – Uma das medidas preventivas é a exposição solar em horários restritos, além do uso de filtros solares. Quais outras formas importantes de prevenção os médicos podem indicar aos seus pacientes?
JWPS – A principal medida é evitar exposição prolongada ao sol entre 10h00 e 16h00. Sempre procurar lugares com sombra e usar proteção adequada, como roupas, bonés, chapéus de abas largas, óculos escuros com proteção UV, sombrinhas e barracas. Aplicar na pele e nos lábios, antes de se expor ao sol, filtro solar com fator de proteção, lembrando-se de repor de 2 em 2 horas e após sair da água. Além disso, ficar atento a lesões novas ou em modificação para procurar atendimento médico e tratamento de lesões pré-malignas e/ou precoces.
GEN – Quais os principais sintomas da doença e as recomendações médicas para o aparecimento de manchas consideradas suspeitas?
JWPS – O câncer de pele não melanoma ocorre principalmente nas áreas do corpo mais expostas ao sol, como rosto, pescoço e orelhas. Apresenta-se como manchas na pele que coçam, ardem, descamam ou sangram e feridas que não cicatrizam.
Já o melanoma pode aparecer em qualquer parte do corpo (pele ou mucosas) em forma de manchas, pintas ou sinais que apresentam assimetria, bordas irregulares, mais de uma cor e/ou mudanças rápidas na aparência (tamanho, forma, cor, espessura ou sangramentos).
GEN – Comente um pouco sobre as características patológicas de cada tipo de carcinoma, entre eles basocelular, espinocelular e melanoma.
JWPS – O câncer de pele não melanoma (carcinoma espinocelular e basocelular) tem origem nas células da epiderme (ceratinócitos e células basais) e costuma ter agressividade local.
O melanoma tem origem nos melanócitos (células produtoras de melanina, substância que determina a cor da pele), podendo aparecer em qualquer parte do corpo, e apresenta alto risco de metástase.
GEN – Quais tipos de tratamentos são indicados de acordo com o tipo de câncer e o grau da doença?
JWPS – A cirurgia é o tratamento mais indicado tanto nos casos de carcinoma basocelular como nos de carcinoma epidermoide. Eventualmente, pode-se associar a radioterapia à cirurgia. Existem outras opções terapêuticas para casos menos agressivos, como a terapia fotodinâmica, a criocirurgia e a imunoterapia tópica. No entanto, exigem indicação precisa feita por um especialista experiente.
Para o melanoma, dependendo do estadiamento patológico em que a doença for diagnosticada, existem protocolos de tratamento. Lesões iniciais podem ser tratadas com exérese cirúrgica, respeitando margens de ressecção amplas preestabelecidas. Já nas lesões mais avançadas, pode ser necessário quimioterapia, radioterapia e até imunoterapia em casos elegíveis.
GEN – Existe alguma novidade terapêutica no Brasil?
JWPS – Como mencionado anteriormente, para casos elegíveis, hoje temos a imunoterapia como nova ferramenta para o tratamento do câncer de pele tipo melanoma. Há poucos anos, menos de uma década atrás, as respostas e perspectivas não eram tão boas para quem recebia o diagnóstico do melanoma metastático, hoje compreendemos consideravelmente sua biologia, assim como formas mais eficazes de barrar ou desacelerar sua progressão com o uso de terapias-alvo.