Deficiência Intelectual
- 23 de abr de 2019
Por Dr. Clay Brites – Em tempos de inclusão escolar, vem-se ressaltando a necessidade de aprofundarmos nossos conhecimentos acerca de determinados assuntos ou condições médicas diretamente ligadas ao recorrente tema. O Retardo Mental ou Deficiência Intelectual (DI) é uma dessas condições que, mesmo seculares, ainda carece de compreensão por muitos médicos, profissionais de Saúde não médicos e por profissionais de Educação.
Conhecida desde o século XIX, mas ainda muito pouco estudada quando comparada a outras condições, a DI é um transtorno de desenvolvimento caracterizado por um importante e significativo déficit no nível intelectual e na capacidade adaptativa do indivíduo em face das adversidades e dos obstáculos naturais do convívio deste com o seu ambiente, revelando uma idade mental e cognitiva muito abaixo de sua cronológica.
Antes denominada Retardo Mental, no mais recente DSM-5, o termo foi atualizado e os critérios para seu diagnóstico permaneceram, mas com ênfase no processo de avaliação: a aplicação de testes sistematizados que analisam o nível intelectual e adaptativo, com maior importância dada ao último para sua confirmação.1
Esta anomalia impede que o indivíduo consiga raciocinar o suficiente para conseguir cumprir tarefas com a devida autonomia e imaginação criativa levando à uma incapacidade de generalizar e abstrair informações. Não raro, estes jovens apresentam hipotonia motora, inabilidade social, atrasos de desenvolvimento neuropsicomotor (na linguagem e na habilidade motora, especialmente) e podem ter, associado como causa, uma síndrome genética ou uma doença metabólica2.
Em torno de 1,5 a 2% das pessoas apresentam DI, que se manifesta na fase de desenvolvimento do ciclo de vida humano e persiste na fase adulta3. Sem cura, é uma condição crônica e o seu tratamento envolve estratégias medicamentosas e não medicamentosas que variam de acordo com a idade, intensidade e do contexto em que o portador está inserido. Mais de 80% dos casos têm comorbidades como déficit de atenção, hiperatividade, autismo, transtornos de humor e epilepsia e estas exigem suporte farmacológico para controle e melhora dos sintomas4.
O manejo não medicamentoso é interdisciplinar e envolve suporte psicológico, fonoaudiológico, terapêutico-ocupacional, psicomotor, do serviço social e escolar que variam em frequência e intensidade de acordo com as características globais da criança e da família.
Quanto mais precoce o diagnóstico, mais cedo serão as intervenções e melhor a condução de medidas que ajudam esta criança a se adaptar aos desafios da vida social, acadêmica e das rotinas e necessidades do cotidiano. Além disso, serve também para remediar, a tempo, atrasos específicos de desenvolvimento neuropsicomotor e preparar para os pré-requisitos básicos para a alfabetização e capacitação matemática, alicerçando a aprendizagem escolar futura em direção a um rendimento mais satisfatório.
Na escola, é muito importante a adaptação curricular, o suporte de professores de apoio especializado em educação especial e a observação para prevenir bullying e problemas comportamentais tanto externalizantes quanto internalizantes.
Adultos com DI precisam muitas vezes de mediação no ambiente de trabalho, além de segurança para manter seu emprego e garantir seus direitos adquiridos para poderem preencher as vagas as quais têm direito e serem incluídos nos processos trabalhistas. Normalmente, eles possuem limitações para concursos públicos, entrevistas de emprego, assumir cargos estratégicos, gerenciais e que exigem capacitação especializada, mas podem desempenhar bem atividades de rotina, como as de perfil repetitivo e de produção em série.
Referências
1) American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders 5th Edition (DSM-5). Washington DC, American Psychiatric Association, 2013.
2) Rauch A, Dagmar Wieczorek D, Graf E, Wieland T, Endele S, Schwarzmayr T et al. Range of genetic mutations associated with severe non-syndromic sporadic intellectual disability: an exome sequencing study. Lancet. 2012;380:1674-82.
3) Leonard H, Wen X. The epidemiology of mental retardation: challenges and opportunities in the new millennium. Ment Retard Dev Disabil Res Rev 2002;8:117-34.
4) Gautham P, Bhathia MS, Rathi A. Intellectual Disability and Multiple Comorbid Psychiatric Disorders in a Child: A Case Report. Journal of Clinical and Diagnostic Research. 2014;8(11):WD01-WD02.
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