Distonia: Pacientes sem controle dos movimentos

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Tiques, espasmos e outros tipos de movimentos involuntários são frequentemente associados à doença de Parkinson, mas há uma gama de distúrbios neurológicos que afetam as funções motoras. Entre eles está a distonia, doença que atinge 65 mil pessoas no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, e conta com ações de conscientização no mês de maio.

Suas principais características são movimentos complexos, involuntários e repentinos de braços, pernas, tronco, pescoço e outros, assim como torção, tremores, contrações e piscadas repetidas dos olhos. O cérebro não sofre danos, mas os membros param de responder aos comandos e o paciente perde, de forma evolutiva, o controle de suas próprias ações.

Com o passar do tempo, vai ficando cada vez mais difícil manter práticas habituais simples como segurar e manusear objetos, escrever, tomar banho e até mesmo se alimentar sozinho. Este fator influencia diretamente a funcionalidade do indivíduo, que muitas vezes, se afasta de suas atividades sociais e laborais. Duas das personalidades que ajudaram na divulgação desta condição, e sofreram bastante com seus impactos, foram o maestro João Carlos Martins e o artista Caroll Spinney, marionetista dos personagens Garibaldo e Oscar Grouch no programa infantil Vila Sésamo.

Histórico

Os primeiros registros de pacientes descrevendo a distonia apareceram no final do século passado. De acordo com o Dr. Stanley Fahn (1988), o neurologista londrino Richard Gowers utilizou o termo "coréia tetanóide", em 1888, para abordar movimentos anormais compassados e contínuos em dois irmãos - que, algum tempo depois, seriam identificados como portadores da doença de Wilson. Outras expressões também foram empregadas na época, como "câimbras tônicas", "espasmos histéricos" e "mioclonia do tronco".

Já na década de 1980, a patologia foi delimitada como uma síndrome caracterizada por contração muscular sustentada causando torção, movimentos repetitivos ou posturas anormais (Dystonia Medical Research Fundation, 2006).

Atualmente, é descrita como um conjunto de sinais clínicos que se apresentam em grupo (síndrome), além de também ser usada como título para relatar doenças específicas.

Causas

Esta condição não possui uma única causa definida, podendo ser provocada por doenças degenerativas, traumas e lesões na região do crânio, fundo genético ou intoxicação por agentes químicos, que acarretam o mau funcionamento de uma área cerebral conhecida como núcleos da base (gânglios da base).

Diagnóstico

Chegar até seu diagnóstico não é, de modo geral, fácil quando os sintomas ainda estão em fase inicial. O médico neurologista deve começar a investigar o cotidiano do paciente, possíveis alterações no organismo e, ainda, analisar exames físicos. Alguns casos podem demandar exames de imagem.

Esta demora ocorre em razão de haver muitos tipos de distonia. Ademais, suas manifestações sintomáticas também se relacionam com outras disfunções, dificultando a identificação isolada da doença. 

Uma doença de muitos tipos

Todos os gêneros da distonia têm em comum a hipertonia, um aumento expressivo do tônus muscular. Com consequência, a pessoa passa a ter contrações musculares repetitivas ou a perda total de sua capacidade de relaxamento, o que causa crises agudas de dor.

No mais, o distúrbio se agrupa da seguinte forma:

Distonia focal: quando apenas um segmento do corpo apresenta movimentos involuntários, como um braço, uma perna ou a região cervical (pescoço). A gesticulação é sem ritmo e possui maior amplitude.

Distonia segmentar: quando duas regiões apresentam os movimentos involuntários, como, por exemplo, cervical e um dos braços ou uma das pernas.

Distonia multisegmentada: quando afeta um lado inteiro do corpo, incluindo os membros superiores e inferiores.

– Distonia generalizada: como o nome diz, acomete todo o corpo, da cabeça aos pés. 

Tratamentos

A distonia deve ser tratada por uma frente multifuncional de terapias, englobando medicações e terapias de reabilitação dos membros afetados, bem como apoio da psicoterapia.

Quadros mais leves recebem a indicação de medicamentos que agem no relaxamento da musculatura e diminuição da dor local. A toxina botulínica atua da mesma forma e é recomendada para distonias focais, aplicada com intervalos de 3 em 3 meses.

Casos mais generalizados e complexos passam a contar com o auxílio das cirurgias. Uma das técnicas aplicadas é a rizotomia, procedimento invasivo que lesiona raízes nervosas ao nível da medula para interromper a comunicação dos estímulos distônicos.

Entretanto, o método mais eficaz, posto em prática atualmente, é a neuroestimulação cerebral profunda. Neste caso, são implantados eletrodos na cabeça, que atuam na modulação dos impulsos elétricos das áreas acertadas pelo distúrbio.

Do inglês Deep Brain Stimulation, o método é minimamente invasivo e não lesiona nenhuma estrutura cerebral. Além de apresentar resultados expressivos, é completamente reversível, caso seja necessário.

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