Doença do enxerto versus hospedeiro

Doença do enxerto versus hospedeiro

A doença do enxerto versus hospedeiro (DEVH) é uma reação imunomediada que resulta da interação complexa entre a ação das células imunocompetentes do doador contra os tecidos do receptor. Costuma ocorrer principalmente após transplante de medula óssea (TMO) e classifica-se em aguda, quando a doença ocorre até 100 dias após o transplante, e crônica, quando surge após cem dias. Além do TMO, os procedimentos associados ao alto risco de desenvolver DEVH incluem a transfusão de hemoderivados não irradiados e o transplante de órgãos sólidos contendo tecido linfoide. Vejamos um exemplo na Figura 1.


Figura 1. Erupção eritematodescamativa generalizada em paciente que sofreu transplante de medula há oito meses.

 Erupção eritematodescamativa generalizada em paciente que sofreu transplante de medula há oito meses.

Fonte: acervo de dados da autora.


Quadro clínico
A DEVH aguda manifesta-se por sintomas gerais, como náuseas, vômitos, icterícia, diarreia, dor abdominal e prurido localizado ou generalizado. Ocorre erupção maculopapular na pele, inicialmente na nuca, nas orelhas, nos ombros, nas palmas e nas plantas. As lesões são dolorosas e podem mimetizar queimaduras solares. Caso não tratadas, podem se tornar confluentes e evoluir para eritrodermia, com surgimento de bolhas e sinal de Nikolsky positivo, configurando quadro clínico semelhante à necrólise epidérmica tóxica.


A DEVH crônica pode ocorrer após doença aguda ou de forma insidiosa, progressiva ou primária. Os pacientes apresentam erupção cutânea líquen plano-like, com pápulas planas violáceas em extremidades, que se tornam generalizadas. Apresentam também áreas de espessamento cutâneo semelhantes à esclerodermia, inicialmente em membros inferiores, nádegas, quadris e tronco, acabando por acometer a face e as extremidades, com necrose e ulceração. Outras manifestações são distrofia ungueal, alopecia, anidrose e lesões em mucosas.


Diagnóstico e diagnóstico diferencial
O diagnóstico é clínico, confirmado por biópsia de pele. As principais alterações laboratoriais encontradas são aumento de fosfatase alcalina, bilirrubina, transaminase glutâmico-oxalacética (TGO), transaminase glutâmico-pirúvica (TGP) e gamaglutamiltransferase. O exame anatomopatológico demonstra apoptose de queratinócitos, infiltrado perivascular de mononucleares, vacuolização da camada basal, bolhas subepidérmicas, satelitose e edema de células endoteliais. Os principais diagnósticos diferenciais incluem eritrodermia, farmacodermia, necrólise epidérmica tóxica, exantema viral, esclerodermia e líquen plano.


Tratamento
São consideradas opções de tratamento corticosteroides tópicos, tacrolimo, PUVA, fotoferese extracorporal e imunossupressão sistêmica com ciclosporina (12 a 15 mg/kg/dia), metilprednisolona (2 mg/kg/dia), micofenilato mofetil (2 g/dia), infliximabe (10 mg/kg/semana) ou etanercepte (25 mg, 2 vezes/dia). Na doença crônica, pode-se também utilizar metotrexato, azatioprina e talidomida. 


Bibliografia 
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Colaboração:Dra. Glauce Martins Neff, médica mestranda em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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