Doença do enxerto versus hospedeiro
- 18 de fev de 2020
A doença do enxerto versus hospedeiro (DEVH) é uma reação imunomediada que resulta da interação complexa entre a ação das células imunocompetentes do doador contra os tecidos do receptor. Costuma ocorrer principalmente após transplante de medula óssea (TMO) e classifica-se em aguda, quando a doença ocorre até 100 dias após o transplante, e crônica, quando surge após cem dias. Além do TMO, os procedimentos associados ao alto risco de desenvolver DEVH incluem a transfusão de hemoderivados não irradiados e o transplante de órgãos sólidos contendo tecido linfoide. Vejamos um exemplo na Figura 1.
Figura 1. Erupção eritematodescamativa generalizada em paciente que sofreu transplante de medula há oito meses.
Fonte: acervo de dados da autora.
Quadro clínico
A DEVH aguda manifesta-se por sintomas gerais, como náuseas, vômitos, icterícia, diarreia, dor abdominal e prurido localizado ou generalizado. Ocorre erupção maculopapular na pele, inicialmente na nuca, nas orelhas, nos ombros, nas palmas e nas plantas. As lesões são dolorosas e podem mimetizar queimaduras solares. Caso não tratadas, podem se tornar confluentes e evoluir para eritrodermia, com surgimento de bolhas e sinal de Nikolsky positivo, configurando quadro clínico semelhante à necrólise epidérmica tóxica.
A DEVH crônica pode ocorrer após doença aguda ou de forma insidiosa, progressiva ou primária. Os pacientes apresentam erupção cutânea líquen plano-like, com pápulas planas violáceas em extremidades, que se tornam generalizadas. Apresentam também áreas de espessamento cutâneo semelhantes à esclerodermia, inicialmente em membros inferiores, nádegas, quadris e tronco, acabando por acometer a face e as extremidades, com necrose e ulceração. Outras manifestações são distrofia ungueal, alopecia, anidrose e lesões em mucosas.
Diagnóstico e diagnóstico diferencial
O diagnóstico é clínico, confirmado por biópsia de pele. As principais alterações laboratoriais encontradas são aumento de fosfatase alcalina, bilirrubina, transaminase glutâmico-oxalacética (TGO), transaminase glutâmico-pirúvica (TGP) e gamaglutamiltransferase. O exame anatomopatológico demonstra apoptose de queratinócitos, infiltrado perivascular de mononucleares, vacuolização da camada basal, bolhas subepidérmicas, satelitose e edema de células endoteliais. Os principais diagnósticos diferenciais incluem eritrodermia, farmacodermia, necrólise epidérmica tóxica, exantema viral, esclerodermia e líquen plano.
Tratamento
São consideradas opções de tratamento corticosteroides tópicos, tacrolimo, PUVA, fotoferese extracorporal e imunossupressão sistêmica com ciclosporina (12 a 15 mg/kg/dia), metilprednisolona (2 mg/kg/dia), micofenilato mofetil (2 g/dia), infliximabe (10 mg/kg/semana) ou etanercepte (25 mg, 2 vezes/dia). Na doença crônica, pode-se também utilizar metotrexato, azatioprina e talidomida.
Bibliografia
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Colaboração:Dra. Glauce Martins Neff, médica mestranda em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).