Hipotireoidismo e níveis de TSH em idosos pedem atenção especial ao diagnóstico e tratamento
- 19 de mar de 2020
O hipotireoidismo é a disfunção mais comum na glândula tireoide, diagnosticado por queda na produção dos hormônios triiodotironina (T3) e tiroxina (T4), o que afeta consequentemente a quantidade destes na corrente sanguínea.
Quando ocorrem alterações na produção de T3 e T4, o desempenho de todo o organismo é afetado. Os sintomas vão de variações nos batimentos cardíacos e no funcionamento do intestino até mudanças no humor e no ciclo menstrual. Embora os efeitos mais conhecidos popularmente sejam o ganho de peso ou a dificuldade de perder medidas, eles são apenas as consequências visíveis do problema.
Apesar de a disfunção ocorrer em pacientes de qualquer faixa etária, sua prevalência aumenta com a idade; idosos a partir dos 60 anos representam um dos grupos de risco. Contudo, um estudo publicado em 2019, no Thyroid Research Journal, aponta que o intervalo de referência do TSH também se eleva com a idade e que pequenos aumentos do TSH, bem como o tratamento do hipotireoidismo subclínico, não estão associados a resultados relevantes, como comprometimento da qualidade de vida do idoso.
No caso de hipotireoidismo evidente (TSH > 10 mU/l), torna-se necessária a terapia com levotiroxina (TH), já que essa condição está associada a maior incidência de eventos cardiovasculares e crescimento global da mortalidade.
Os sintomas mais comuns do hipotireoidismo nem sempre são evidentes nos idosos e, muitas vezes, são atribuídos ao processo natural do envelhecimento. Para o pesquisador do Departamento de Endocrinologia da Newcastle Upon Tyne Hospitals NHS Foundation Trust, que assina o artigo citado, isso faz com que as pessoas idosas relatem menos sintomas de hipotireoidismo do que os mais jovens. O autor cita estudos anteriores apontando que pacientes com 70 anos ou mais descreveram bem menos problemas de ganho de peso, cãibras e intolerância ao frio do que aqueles com 50 anos ou menos.
Como consequência, apesar de serem solicitados com frequência testes de função da tireoide, a faixa de referência do TSH ainda é única para todas as idades. Desse modo, muitos idosos acabam recebendo o diagnóstico de hipotireoidismo subclínico leve, quando o intervalo de referência também deveria aumentar com a idade.
Portanto, o estudo conclui que a função da tireoide também muda com a idade, principalmente nos dois extremos da vida. Evidências atuais sugerem que uma ligeira redução da função tireoidiana em indivíduos mais velhos, evidenciada por TSH sérico marginalmente elevado e baixo FT4, pode não estar associada a resultado adverso, mas ser benéfica.
Por outro lado, função tireoidiana alta, evidenciada por baixo nível de TSH, requer cuidadoso monitoramento e tratamento se houver evidência de danos em órgãos-alvo (p. ex., osteoporose e fibrilação atrial) ou se o TSH sérico estiver suprimido. Apesar dos grandes avanços na compreensão da função e da ecologia da tireoide, principalmente devido a melhorias nas técnicas de ensaio e a estudos epidemiológicos de alta qualidade, vários problemas ainda não foram resolvidos. Atualmente, não se sabe ao certo quais mecanismos subjacentes precisos estão por trás das mudanças na função da tireoide observadas em indivíduos mais velhos. Além disso, se desconhece se essas mudanças fazem parte do envelhecimento saudável ou se são um marcador biológico da doença subjacente.
Podem ser necessários intervalos de referência específicos para cada faixa etária, com referência especial à doença subclínica da tireoide, usando o TSH sérico como parâmetro em pacientes que repõem o hormônio tireoidiano. No futuro, é possível que se torne rotina a manipulação da função da tireoide para obter saúde e longevidade.
No caso de gestantes, também é importante avaliar e atentar para os níveis de TSH. Eles não podem ultrapassar 7,5 U/l; do contrário, os riscos de aborto podem crescer consideravelmente.
Bibliografia
Leng O, Razvi S. Hypothyroidism in the older population. Thyroid Res. 2019;12:2. Disponível em: https://thyroidresearchjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13044-019-0063-3. Acesso em fev/2020.