Medicina em xeque

Medicina em xeque

Por Andrea Ramal – Um dos primeiros desafios que o novo governo terá de enfrentar é a formação dos médicos brasileiros. Desde o início deste ano, está vetada pelo Ministério da Educação (MEC) a abertura de novos cursos de Medicina pelos próximos 5 anos. Essa “moratória” tem o objetivo de reavaliar a formação médica no país.


Com a decisão do governo cubano de se retirar do programa Mais Médicos, o presidente eleito provavelmente seguirá o que anunciou na campanha, criando uma carreira de Estado, com salário atrativo e oportunidades no interior do país para o atendimento à população mais desassistida. Essa ideia, fundamentada em uma proposta da Associação Médica Brasileira (AMB), de 2009, depende de quantidade suficiente de profissionais – hoje, o número de habitantes por médico no Norte do país é três vezes maior que o do Sudeste. E depende, sobretudo, da qualidade da formação.


De fato, nos últimos anos, houve uma proliferação de cursos de Medicina. Atualmente, são cerca de 300 cursos no país, que lançam ao mercado mais de 29 mil novos médicos por ano. O problema é que muitos foram abertos sem a devida estrutura, adotando currículos inadequados, com poucos laboratórios e didática longe da ideal. Isso faz com que haja enormes deficiências em um número expressivo de médicos recém-formados.


Isso é comprovado, por exemplo, pela dificuldade de preencher as vagas de residência médica. Este ano, no exame do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), 40% dos recém-formados foram reprovados. Quase 70% dos médicos não sabiam medir a pressão arterial e 68% não acertaram os procedimentos que devem ser adotados em pacientes com sinais de infarto.


Se fosse aplicado um exame de certificação em outros Estados, certamente teríamos resultados similares. E se o Conselho Federal de Medicina (CFM) aplicasse um exame vinculado à concessão de registro profissional, como é o caso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no campo jurídico, teríamos ainda menos médicos exercendo a profissão.


Para melhorar este cenário, a revisão dos cursos de Medicina precisa ser acelerada. Cinco anos é tempo demais se considerarmos que essa quantidade de indivíduos despreparados está atuando dentro do sistema de saúde e pondo em risco os recursos existentes e, principalmente, a vida dos pacientes.


No âmbito pedagógico, há o desafio de implementar as metodologias ativas. A didática contemporânea supõe que o aluno estude individualmente, antes da aula, e nos encontros presenciais discuta estudos de caso, com abordagens interdisciplinares. Menos exposição do docente, mais autonomia do aluno. Isso funciona com mais responsabilidade e autodisciplina, pelo lado dos estudantes, e mais rigor na avaliação, por parte dos professores.


Algumas inspirações podem ser buscadas no Reino Unido e nos EUA, onde as instituições de formação contam com notável infraestrutura, laboratórios de ponta e fortes incentivos para pesquisas. Segundo o mais recente ranking da consultoria britânica QS, as seis melhores instituições do mundo para estudar Medicina estão localizadas nas duas nações: Massachusetts Institute of Technology (MIT), Stanford e Califórnia Institute of Technology (Calltech), nos Estados Unidos, e Cambridge, Oxford e Imperial College London (ICL), no Reino Unido. Não é à toa que os dois países, juntos, têm 137 vencedores do Nobel de Medicina, entre outros importantes prêmios e honrarias internacionais.


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