Mitos e verdades sobre alimentos que atuam na prevenção do câncer urogenital

Mitos e verdades sobre alimentos que atuam na prevenção do câncer urogenital

As diferenças nos hábitos de vida e na dieta contribuem para os diferentes níveis de incidência e prevalência de câncer no mundo. Estudos populacionais revelam que as maiores taxas de incidência de neoplasias estão concentradas nos países mais desenvolvidos. Isso pode ser explicado, em parte, pela maior longevidade dessas populações. Entretanto, fatores dietéticos também podem ser responsáveis pelas disparidades de incidência.


A dieta moderna, composta por alimentos refinados com produtos químicos, é considerada, por alguns, a maior responsável pelo desenvolvimento de neoplasias. Estudos sugerem que mais de 80% dos tumores ocorrem como resultado de baixa qualidade nutricional, hábitos de vida prejudiciais à saúde (p. ex., tabagismo e alcoolismo), ingesta de produtos químicos e outros fatores ambientais. De acordo com a Fundação Mundial de Pesquisa em Câncer (World Cancer Research Fund, da Inglaterra), se houvesse redução da ingestão de gorduras saturadas e estímulo para maior consumo de vegetais e produtos integrais, manutenção de peso ideal para sexo/faixa etária e prática regular de atividade física, o risco de câncer poderia ser reduzido em até 40%.


A seguir, avaliaremos os principais componentes relacionados à dieta que têm sido foco de estudo para identificação de fatores de prevenção dos tumores urogenitais.


Frutas e hortaliças


Até o momento, as pesquisas têm demonstrado de forma convincente que dietas ricas em frutas e vegetais protegem de diversas doenças, incluindo alguns tipos de neoplasias urológicas. A variedade de compostos, vitaminas e minerais ingeridos em uma dieta bem planejada só traz benefícios ao organismo. A dieta com pouca proteína animal e pouca gordura mostra-se mais benéfica contra o câncer de próstata, o mais incidente entre os homens, e tem efeito positivo, porém mais discreto, contra os outros tumores urológicos. Uma dieta rica em vegetais e frutas não apenas reduz o risco de desenvolvimento do câncer de próstata como também possivelmente desacelera a progressão da doença já instalada. O efeito protetor dessa dieta para o câncer de bexiga, entretanto, é bem mais discreto, com apenas um benefício significativo marginal.


Dois grandes estudos de coorte prospectivos foram publicados nos últimos anos, evidenciando que a alta quantidade de frutas e vegetais na dieta parece não reduzir significativamente o risco de câncer renal. No caso das neoplasias de testículos, atualmente ainda não se evidenciou nenhuma associação de risco relacionada com a ingestão de frutas e verduras. No entanto, a falta de benefício dessa dieta em alguns tipos de neoplasias urológicas não exclui a possibilidade de que a baixa ingestão desses alimentos aumente os riscos.


De maneira indireta, os estudos confirmam que a dieta predominantemente vegetariana deveria ser um hábito adotado pela maioria da população mundial. Analisando um pouco mais a fundo, os vegetarianos sempre defenderam que a exclusão de carne da dieta seria muito mais saudável do que a dieta onívora. Porém, o debate acerca dos benefícios da dieta vegetariana muitas vezes transcende às questões científicas. Muitos de seus praticantes são motivados por outras razões além das nutricionais, como religião, moral e respeito aos seres vivos. Dietas vegetarianas têm sido associadas a menores riscos de doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e obesidade. Acredita-se que isso ocorra devido às menores quantidades de gordura, proteína e colesterol ingeridas, e às maiores quantidades de fibras, vitaminas, minerais e substâncias antioxidantes presentes na dieta, em comparação com a alimentação com grandes quantidades de carne. No entanto, não devemos esquecer que seus defensores também costumam ser contrários ao tabagismo, ao consumo de álcool, ao uso de drogas e ao sedentarismo, apoiando um estilo de vida harmonioso do corpo com o ambiente. Podemos supor que são essas atitudes que, provavelmente, contribuem para diminuir o risco de diversas doenças.


A aplicação de uma mudança de estilo de vida, com a adoção de dieta vegetariana, também tem sido avaliada nos estudos clínicos, e os resultados têm sido bastante animadores no campo urológico. Em pacientes que possuem câncer de próstata recorrente, a mudança para uma dieta baseada em produtos de origem vegetal e medidas de redução do estresse parecem influenciar positivamente a evolução da doença, desacelerando o processo de crescimento tumoral. Para aqueles que gostam de carne e escolhem seguir uma dieta onívora, é importante ter em mente que, se ela for balanceada, a possibilidade de efeitos benéficos para a saúde é mantida da mesma maneira.


Tomate e licopeno


Com tantos estudos avaliando dietas ricas em verduras e frutas e demonstrando resultados bastante otimistas, têm sido realizadas tentativas para identificação e isolamento de alguns de seus compostos mais eficazes. O tomate é um fruto que vem atraindo muita atenção e tem sido estudado na prevenção de doenças cardiovasculares, no controle de dislipidemias e diabetes, e em diversos tipos de câncer.


O licopeno é um carotenoide presente em grandes quantidades no tomate, mas também encontra-se abundantemente em outras frutas, como goiaba, melancia e mamão papaia. Possui atividade antioxidante potente, maior que a do alfa e do betacaroteno, pois não é convertido em vitamina A quando ingerido. Estudos iniciais sugeriram que tomates industrializados na forma de molho ou pasta de tomate constituem uma fonte mais rica em licopeno do que suco ou fruta crua, porque o seu aquecimento no processo de cozimento permite que o organismo o absorva mais rapidamente.


Diversos estudos de caso-controle e prospectivos têm sido realizados para avaliar se a presença de licopeno na dieta está associada ao risco de câncer de próstata. Em uma metanálise, não foi detectado benefício clínico do licopeno na dieta como um fator protetor do desenvolvimento de neoplasia de próstata. Recentemente, mais um estudo prospectivo foi publicado, e também não se evidenciaram diferenças significativas no risco de câncer de próstata relacionadas com alto consumo de licopeno, ao ponto de o órgão governamental norte-americano, de grande influência mundial, denominado Food and Drug Administration (FDA), ter proibido a sua divulgação por veículos de comunicação, e em farmácias, como “capaz de prevenir o câncer de próstata”.


Esse é um exemplo de que a alimentação balanceada que contenha cinco ou mais porções diárias de frutas e verduras variadas é mais eficaz do que a ingestão de grandes quantidades de um tipo particular de alimento ou suplemento, como ocorre também com algumas vitaminas.


Soja


Avaliações epidemiológicas identificaram que povos orientais, como os do Japão e da China, possuem baixas incidências de alguns tipos de neoplasias urogenitais, como a de próstata. Uma das teorias baseia-se nas características da dieta típica oriental, com altas quantidades de soja e seus derivados, incluídos nos hábitos alimentares desses povos há mais de 5 mil anos. Os efeitos da soja na saúde das pessoas são atribuídos a um de seus componentes, as isoflavonas, que também são chamadas de fitoestrógenos por possuírem uma fraca atividade estrogênica. Pesquisadores acreditam que as isoflavonas contidas na soja possuem um papel na redução do risco de câncer, como observado entre os japoneses e chineses. Isso também é consequência de resultados de experimentos em modelos laboratoriais e animais e de estudos populacionais que demonstraram que as isoflavonas da soja possuem o potencial de reduzir o risco de alguns tumores, incluindo os de mama, próstata e cólon.


Vários estudos clínicos foram realizados avaliando o papel da isoflavona derivada da soja no risco de câncer de próstata, e, nos últimos anos, duas metanálises foram publicadas com resultados semelhantes. Esses estudos demonstraram a redução de risco estimado global em quase 30% para o desenvolvimento de câncer de próstata.


O consumo do grão de soja é geralmente considerado seguro. Efeitos colaterais são raros, mas ocasionalmente podem ocorrer problemas gastrintestinais, como epigastralgia e diarreia. Como fonte proteica, a soja é considerada mais saudável do que a carne e ajuda na perda de peso. Atualmente, a soja está sendo aplicada clinicamente como redutora de colesterol e de níveis pressóricos, e para alívio de sintomas do climatério e da osteoporose. Assim, o consumo de soja e seus derivados, como o tofu e o missô, deveria ser estimulado e introduzido de maneira contundente nos hábitos alimentares dos povos ocidentais, de preferência o mais precocemente possível, para otimizar seus benefícios ao longo da vida.



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