Notalgia Parestésica | Frequente, Antiga e ainda Desconhecida

Notalgia Parestésica | Frequente, Antiga e ainda Desconhecida

Também denominada síndrome pruriginosa interescapular ou síndrome prurítica disestésica, a notalgia parestésica é, na linguagem comum, a velha “coceira da mãozinha” dos nossos avós (que também se serviam dos ângulos das molduras de portas na vã tentativa de aliviar o prurido enervante do dorso).


Muito comum, mas bastante desconhecida quanto à provável causa, essa síndrome é descrita como prurido episódico uni- ou bilateral na região cérvico-escapular, sensação episódica de queimação, dor ou hiperestesia na porção média do dorso. Mais comum em mulheres na meia-idade, o prurido pode ser associado à mancha escura relativamente difusa que surge no exato segmento de desconforto e compromete de modo ostensivo a qualidade de vida.


A síndrome prurítica disestésica ocorre a partir dos 40 anos de idade, ainda que possa afetar pessoas mais jovens com alterações da coluna vertebral, como escoliose, por exemplo. É uma anomalia crônica que não costuma estar associada a doença grave, mas tem sido ignorada pela maioria dos clínicos, ou mesmo desconhecida por eles, apesar de ser muito frequente. Até há poucas décadas, essa condição era atribuída a um depósito amiloide ou a uma causa desconhecida, tendo como denominação “prurigo melanótico” e sendo diligentemente estudada por Pierini e Borda, autores argentinos, durante as décadas de 1950 a 70. Os dermatologistas conviveram com o insucesso sempre, com qualquer tentativa terapêutica, especialmente por tratar-se de distúrbio neuromuscular, não cutâneo.


Hoje, o prurido intenso é explicado, de forma consistente e com melhores perspectivas terapêuticas, como um distúrbio musculoesquelético com origem nas ramificações nervosas sensitivas nos níveis das vértebras cervicais ou cervicotorácicas (C4 a C7).


A avaliação radiológica pode orientar sobre localização e intensidade do processo de comprometimento das vértebras, mas nem sempre oferece informações. O histórico dos(as) pacientes é decisivo. Relatam dor muscular no pescoço e/ou entre as escápulas, histórico de artrite, hérnia de disco ou lesões nesses níveis em algum momento de suas vidas.


A notalgia parestésica tem sido associada ao prurido braquiorradial, que compromete um ou dois membros e tem características similares.



Figura 1 Notalgia parestésica clássica: placa unilateral de superfície áspera e bordas maldefinidas, disposição em faixa, tom pardo-escuro. Queixa de prurido, ardor e desconforto. A biopsia revela paraceratose, hiperpigmentação, apoptose, espessamento de fibras nervosas, processo inflamatório crônico de intensidade variável.


O tratamento das alterações da coluna por meios não necessariamente dermatológicos tem sido mais promissor, assim como a correção da postura, que se altera com a idade, e da osteoporose, que aproxima as vértebras e resulta em pressão sobre as fibras nervosas sensitivas ou pinçamento.


Apresentações atípicas da notalgia parestésica têm sido relatadas (Figura 2), inclusive prurido cervical, do couro cabeludo e dos ombros, além de disposição bilateral. Espasmo da musculatura cervical e tensão muscular constante devem também ser considerados fatores etiológicos.



Figura 2 Prurido intenso comprometendo toda a região dorsal superior em mulher de meia-idade com osteopenia.


Os exames laboratoriais requeridos para firmar diagnóstico são destinados à exclusão de causas importantes: doenças degenerativas, neoplasias e processos inflamatórios de origem não definida que afetem a coluna vertebral e a medula espinal.


São diagnósticos diferenciais: dermatite de contato, prurido decorrente de picada de inseto, delírio de parasitose, erupção medicamentosa, herpes-zóster, líquen simples crônico (neurodermite), prurido diabético, prurido linfadênico e xerose.


O tratamento consiste em minimizar o prurido atingindo a causa, se possível. Fisioterapia (alongamento, massagens), estimulação elétrica transcutânea, acupuntura, toxina botulínica e medicação sistêmica (analgésicos, gabapentina, talidomida) podem ser úteis.


Bibliografia:


Alai NN, Skinner HB, Nabili ST, Jeffes E, Shahrokni S, Saemi AM. Notalgia Paresthetica Associated with Cervical Spinal Stenosis and Cervicothoracic Disk Disease at C4 through C7. Cutis 2010;85(2):77-81.


Shumway NK, Cole E, Fernandez KH. Neurocutaneous Disease: Neurocutaneous Disesthesias. J Am Acad Dermatol 2016;74(2):215-28.


http://emedicine.medscape.com/article/1599159-overview


http://www.fcmsantacasasp.edu.br/images/Arquivos_medicos/2013_58_1/08-AR19.pdf


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