O conceito de síndrome da fragilidade: será que todo idoso é frágil?

O conceito de síndrome da fragilidade: será que todo idoso é frágil?

Muitas vezes, quando pensamos em um indivíduo idoso, a primeira imagem que nos vem à mente é a de alguém vulnerável, que a qualquer momento pode evoluir com uma doença grave e fatal. Essa visão é certamente equivocada e representa o final de um processo mal sucedido de envelhecimento, e não a realidade que buscamos ao promover diariamente a melhora da saúde e da qualidade de vida daqueles com mais de 60 anos.


Há muito tempo, a Medicina Geriátrica busca entender o que ocorre, de fato, ao longo da vida de indivíduos idosos que se tornam mais vulneráveis quando comparados a idosos saudáveis e ativos. Muito vem se estudando no sentido de se descobrir o “segredo” do envelhecimento bem-sucedido. Acertam os que dizem que vive melhor quem tem amizades sólidas, boa alimentação, qualidade de sono e uma vida ativa do ponto de vista físico. Mas qual é o mecanismo biológico que promove essa melhora?


Os estudos que começaram a citar o termo “fragilidade” datam do início dos anos 1990; no entanto, somente no começo do ano 2000, a Dra. Linda Fried e seus colaboradores definiram o “fenótipo da fragilidade”. De acordo com esse grupo, a fragilidade seria o resultado de alterações fisiológicas e biológicas associadas com a idade, resultado de uma ou de diversas doenças. Os autores sugerem que a síndrome seria o resultado de múltiplos sistemas com certo grau de desregulação energética, fisiológica e funcional. Essa foi a primeira vez que se diferenciou o estado de fragilidade de incapacidade e morbidade.


Incapacidade pode ser definida como a presença de uma ou mais dificuldades em realizar as atividades de vida diária (banho, locomoção, alimentação, higiene íntima, continência, capacidade de vestir-se). Comorbidade pode ser definida como a presença de pelo menos duas doenças diagnosticadas em um mesmo indivíduo, independentemente de seu impacto clínico ou funcional.


A síndrome da fragilidade seria, na verdade, um potencial precursor fisiológico e um fator etiológico do estado de incapacidade em função de seus componentes centrais. A junção desses diversos fatores é responsável pela presença da síndrome e ela pode ou não coexisitir com incapacidades e comorbidades.


O fenótipo da fragilidade proposto por Fried et al. para facilitar o diagnóstico engloba sensação de fraqueza, diminuição da capacidade de realizar atividades e redução no desempenho físico, que podem resultar em incapacidade funcional. De modo objetivo, os critérios podem ser assim expostos:


    1. Perda de peso não intencional: maior de 4,5 kg ou superior a 5% do peso corporal no último ano
    2. Diminuição da força de preensão palmar, medida com dinamômetro e ajustada para gênero e índice de massa corporal (IMC)
    3. Diminuição da velocidade de marcha em segundos
    4. Exaustão à queixas: “eu sinto que faço todas as minhas atividades com muito esforço” e/ou “eu não consigo continuar minhas atividades”
    5. Baixo nível de atividade física à medida pelo dispêndio semanal de energia em kcal (com base no autorrelato das atividades e exercícios físicos específicos realizados) e ajustada conforme o gênero.

Trata-se de um diagnóstico clínico, e pode ser realizado já em uma consulta médica inicial. Indivíduos com três ou mais critérios presentes são considerados frágeis; aqueles com um ou dois critérios são classificados como pré-frágeis e os que não apresentam nenhuma das alterações mencionadas são considerados robustos.


Na prática, o que isso significa?


Esses dados instrumentalizam o profissional da saúde no sentido de identificar e diferenciar os idosos que são mais vulneráveis daqueles que apresentam mais reservas, ou seja, que são mais preparados para enfrentar adversidades. Indivíduos frágeis ou pré-frágeis podem ter piores desfechos de saúde em caso de infecção, desidratação, queda, internação hospitalar, dentre outros. Em geral, eles tendem a demorar mais tempo para voltar ao seu padrão funcional, em virtude de maior velocidade de perda muscular, maior estado pró-inflamatório e pró-trombótico.


Aqueles que sabem identificar pacientes vulneráveis, ou melhor, frágeis ou pré-frágeis, conseguem provisionar os cuidados clínicos de acordo com as demandas agudas e com as necessidades de recuperação.


Ter mais de 60 anos, portanto, não é sinônimo de fracasso. Além disso, não representa a incapacidade de enfrentar eventos adversos. Alguns indivíduos podem, sim, necessitar de maior suporte de saúde, e cabe ao profissional especializado diagnosticar precocemente para desenhar os melhores cuidados.


 


REFERÊNCIAS


Ferrucci L, Guralnik JM, Studenski S et al. Designing randomized, controlled trials aimed at preventing or delaying functional decline and disability in frail, older persons: A consensus report. J Am Geriatr Soc. 2004; 52:625-634.


Fried LP, Tangen CM, Waltson J et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56:M146-M156.


Walston J et al. Research agenda for frailty in older adults: toward a better understanding of physiology and etiology: summary from the American Geriatrics Society/National Institute on Aging Research Conference on Frailty in Older Adults. J Am Geriatr Soc. 2006 Jun; 54(6):991-1001.


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