Obesidade em Crianças | Mais que um Problema de Peso
- 29 de set de 2017
Por Dr. Paulo Sucasas – Mais de um terço (34,9% de 78,6 milhões de indivíduos) dos adultos norte-americanos são obesos. Em crianças, as taxas de obesidade elevaram-se 300% nos últimos 40 anos. Nos EUA, 32% das crianças e adolescentes de 2 a 19 anos apresentam sobrepeso ou obesidade (17% são obesas), enquanto no Brasil, 33,5% das crianças de cinco a menores de 9 anos apresentam excesso de peso contra 6,8 % de desnutridos entre 5 e 9 anos de idade. Além disso, no mundo, em 2014, cerca de 41 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade foram afetadas pelo excesso de peso ou obesidade.
Várias comorbidades associam-se à obesidade infantil e determinam uma pior qualidade de vida e mortalidade precoce na fase adulta:
- Cardiovasculares: a prevalência de dislipidemia na faixa etária pediátrica foi relatada em 20,3%; já nas crianças com sobrepeso foi de 42,9%
- Endocrinológicas: síndrome metabólica, 29,2% em crianças obesas
- Ortopédicas: mais de 80% das epifisiolisteses são em crianças obesas
- Gastrintestinais: a estatose hepática foi relatada em 83% de adolescentes obesos
- Respiratórias: a apneia obstrutiva do sono ocorre em 2 a 3% das crianças eutróficas e em 5,7 a 36% das obesas
- Psicossociais: baixa autoestima, distúrbios de socialização, depressão, distúrbios alimentares e ansiedade.
Dados da OMS demonstram que 81% dos adolescentes de 11 a 17 anos não praticam atividade física suficiente (pelo menos 60 min de atividade física diária).
A história familiar de obesidade é um dos determinantes importantes, tanto pela carga genética quanto pelo ambiente obesogênico – os filhos tendem a compartilhar com os pais os padrões de dieta, tempo em frente a tela e sedentarismo. Além disso, a microbioma intestinal (as bactérias intestinais que influenciam o processamento de alimentos, bem como respostas imunológicas e inflamatórias) está ligada à obesidade infantil.
Alguns estudos têm associado a obesidade com o uso de antibióticos nos dois primeiros anos de vida e uma dieta rica em gorduras, fatores que aumentam bactérias ligadas à obesidade (p. ex., firmicutes) e reduzem aquelas ligadas à magreza (p. ex., bacteroidetes).
As crianças têm tido acesso fácil a alimentos ultraprocessados, densos em energia e pobres em nutrientes, que são mais baratos e rapidamente disponíveis (fat-food ou fast-food?). Alguns países têm considerado taxar de forma bem mais elevada as bebidas adoçadas com açúcar para induzir a redução em seu consumo (em nosso meio, as bebidas sem adição de açúcar têm um custo muito mais elevado do que as adoçadas, induzindo a um excesso no consumo de carboidratos). As oportunidades de atividade física, tanto dentro como fora da escola, têm sido cada vez mais reduzidas (as brincadeiras fora de casa são cada vez mais raras, inclusive pelo receio de violência) e mais tempo é gasto em atividades de lazer baseadas em telas e sedentárias.
As intervenções na obesidade vão muito além do uso de medicamentos, principalmente na faixa etária pediátrica. Uma intervenção simples e endossada pela Academia Americana de Pediatria utiliza o método mnemônico 5-2-1-0, em que se deve seguir a regra:
- 5 ou mais porções de frutas e verduras/legumes ao dia
- 2 horas ou menos de tempo de recreação em frente à tela
- 1 hora ou mais de atividade física ao dia e
- 0 de consumos de qualquer bebida adoçada com açúcar ao dia.
Dessa forma, intervenções precoces, como orientação alimentar, entrevistas motivacionais, redução do sedentarismo e educação familiar podem contribuir para que não percamos mais a saúde das nossas crianças para o sobrepeso e a obesidade.