Poluição pode piorar os problemas causados pelo novo coronavírus

Poluição pode piorar os problemas causados pelo novo coronavírus

Desde o início da pandemia, muito ouvimos falar sobre os perigos que a doença causada pelo novo coronavírus pode representar para portadores de comorbidades: cardiopatas, diabéticos, hipertensos e fumantes, entre outros. Mas existe uma “comorbidade”, que impacta o paciente de Covid-19, sem que ele seja acometido por nenhuma dessas patologias: a poluição ambiental.


De acordo com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo - SOCESP, existe um risco 2 a 3 vezes maior de infarto em pessoas expostas a ambientes com ar poluído por emissões de motores à combustão. A questão é que – como se já não bastassem todas as consequências desencadeadas pela ação do coronavírus no organismo – ainda devemos considerar mais esse fator para as populações vulneráveis às ações de poluentes respiráveis.


Um estudo alemão, publicado no final de abril na revista científica Science of the Total Environment, mostra uma incidência maior de mortes por Covid-19 em regiões onde o índice de dióxido de nitrogênio (NO2), um dos principais poluidores atmosféricos, é mais alto. O NO2 está altamente associado à ocorrência de patologias respiratórias e cardiovasculares e daí a correlação com a doença provocada pelo novo coronavírus que compromete, preferencialmente, as vias respiratórias.


Para se ter uma ideia da gravidade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 91% da população mundial vive em locais nos quais a qualidade do ar está abaixo do recomendado e, aproximadamente, 50% dos habitantes do planeta estão em aglomerados urbanos, sujeitos a níveis maiores de poluentes. E este número tende a crescer: de acordo com projeção da ONU, 7 em cada 10 pessoas viverão em áreas urbanas até 2050.  O fato levará a 4,2 milhões de mortes prematuras por ano.


Mas o cenário instaurado pelo coronavírus provou que essa fumaça pode se dissipar: segundo dados divulgados pela Universidade de Stanford, os índices de poluentes na atmosfera estão até 1/3 menores do que no mesmo período do ano passado.


Em São Paulo, por exemplo, de acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), a liberação desses agentes nocivos foi 50% menor durante a primeira semana de quarentena obrigatória, que começou em 24 de março. Já o índice de poluidores que desencadeiam males respiratórios diminuiu em 30%.


Para alguns pesquisadores, em tempos normais, a quantidade de poluição atmosférica é tão alta que rivaliza com a própria fumaça do tabaco para os fumantes. E além das enfermidades do trato respiratório – como doença pulmonar obstrutiva crônica, rinite, pneumonia, asma, bronquite asmática e câncer de pulmão – outros problemas de saúde, como sarampo, acidente vascular cerebral (AVC), mal de Parkinson, Alzheimer, angina, infarto, arritmia cardíaca, alterações de coagulação e da tireoide, e até diabetes, também podem ser provocados ou agravados pela poluição.


Justamente pelo arsenal de patologias graves que vão para a conta da qualidade do ar, a SOCESP alerta para a necessidade de políticas públicas e para a conscientização de empresas e pessoas sobre a condição. Proteger o meio ambiente vai além de cuidar de rios e mares ou preservar florestas, como a Amazônia ou a Mata Atlântica. Deixar o carro em casa ou permanecer em home office, mesmo quando estivermos desobrigados da quarentena, são iniciativas que se aplicam para tentar manter os baixos níveis de poluição dos últimos meses, ganhando, com isso, bem-estar e qualidade de vida. As readequações de rotina e consumo a que estamos sendo submetidos são a prova de que é possível realinhar estratégias em prol de uma causa maior:  a saúde do planeta e dos habitantes.


 


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