Possíveis efeitos indiretos da pandemia de Covid-19

Possíveis efeitos indiretos da pandemia de Covid-19

A Covid-19, doença infecciosa causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), ameaça populações e sistemas de saúde pelo mundo todo. Ainda sem tratamento seguro e eficaz, tampouco vacina, nos impõe mudanças de comportamento, incertezas e grande preocupação. 


A enfermidade pandêmica é também objeto de muito aprendizado. Um deles é o de que não podemos abrir mão do conhecimento científico. Outro, diz respeito à importância das vacinas. No atual cenário, é possível saber, na prática, como seria um mundo sem elas; um mundo em que a única forma de evitar uma doença grave é o distanciamento social e os rígidos cuidados de higiene pessoal e do ambiente.


Tal situação levou a quase totalidade da população mundial ansiar por uma vacina contra a Covid-19. Pessoas que antes se mostravam hesitantes ou contra a vacinação, hoje torcem para que o imunobiológico esteja logo disponível. Atualmente, mais de 100 pesquisas estão em andamento, pelo menos oito em fase de avaliação clínica. Mas o certo é que, em menos de 12 a 18 meses, não teremos uma vacina distribuída globalmente. 


Enquanto aguardamos a vacina contra a Covid-19, não podemos negligenciar a prevenção de outras doenças infecciosas igualmente graves. A história nos ensinou que vacinas estão entre as maiores aliadas da saúde pública. Graças à vacinação, a varíola, doença que por 3 mil anos assombrou a humanidade, foi eliminada do planeta em 1980; a poliomielite endêmica está limitada a dois países: Afeganistão e Paquistão; e, em 2016, os países das Américas receberam o certificado de eliminação do sarampo ─ infecção que já esteve entre as causas mais comuns de mortalidade infantil no Brasil. Contudo, em 2018, a enfermidade voltou a provocar surtos entre nós, devido à queda na cobertura vacinal. 


E é para o risco das baixas coberturas vacinais que a Organização Mundial da Saúde fez um alerta recentemente: a descontinuidade das imunizações devido à pandemia e/ou  percepção equivocada de que o isolamento social é suficiente para proteger de outras infecções, aumentará o número de indivíduos suscetíveis à doenças imunopreveníveis e a probabilidade de surtos. Esse retrocesso trará consequências para saúde pública que podem superar a curto, médio e longo prazos, as decorrentes da Covid-19. 


Outro fator a ser considerado é que quando os sistemas de saúde estão sobrecarregados, tanto a mortalidade direta, causada pelo surto, como a mortalidade indireta, causada pelas doenças preveníveis e tratáveis, aumentam de forma significativa. De fato, uma análise da epidemia de ebola em países da África (2014-2015) sugere que o crescimento do número de mortes causadas por sarampo, malária, HIV/AIDS e tuberculose, atribuível às falhas no sistema de saúde, superou as causadas pela “febre hemorrágica”. 


A vacinação é um serviço de saúde essencial e imprescindível que não pode parar. Portanto, em um cenário de rápida expansão da Covid-19 e disseminação global do SARS-Cov2, é fundamental que as autoridades de saúde empenhem todos os esforços para oferecer à população condições de manter a vacinação de rotina em dia e com segurança. A busca por locais alternativos como escolas e clubes, bem como a vacinação em domicílio e/ou no sistema de drive in, são algumas das estratégias que podem contribuir para vencermos mais este desafio imposto pela pandemia.


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