Radiação e risco de tumores intracranianos

Radiação e risco de tumores intracranianos

Meningiomas são tumores, benignos na sua vasta maioria (grau I da Organização Mundial da Saúde, OMS), oriundos de células meningoteliais do sistema nervoso central (SNC). Já os gliomas são derivados de transformação neoplásica de células de sustentação cerebral, como astróticos e oligodendrócitos. Infelizmente, o glioma mais comum é o glioblastoma multiforme (grau 4 da OMS), com prognóstico sombrio, sendo raros os casos de sobrevida em 24 meses. Os neurinomas são advindos de células de revestimento de nervos cranianos e adenomas hipofisários, originam-se na porção anterior, ou lobo anterior da hipófise, sendo raros casos malignos.


Atualmente, ainda existem dúvidas quanto ao potencial carcinogênico de telefones celulares ao SNC envolvendo os meningiomas e gliomas, bem como neurinomas e adenomas hipofisários. O substrato da discussão advém do fato de os telefones celulares utilizarem radiação não ionizante, que se caracteriza por suas baixas frequência e energia e, teoricamente, por não penetrar tecidos orgânicos ou causar danos ao DNA celular. A discussão reside no fato de a exposição ao telefone celular emitir ondas de radiofrequência, que de modo cumulativo, no decorrer de vários anos e exposição frequente, pode, em teoria, gerar danos celulares que propiciariam o aparecimento de tumores encefálicos


Hoje em dia, a Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer, da OMS, classifica telefones celulares como “possíveis carcinógenos” (Classificação OMS 2B). Assim, telefones celulares não estão descartados como possível fonte de transformação celular e degeneração neoplásica.  A ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) segue as normas estabelecidas pela ICNIRP (Comissão Internacional de Proteção contra Radiação Não-Ionizante), que opera aparelhos de radiofrequência entre os limites eletromagnéticos nas faixas entre 9 kHz e 300 GHz.


Há grande discrepância entre a literatura leiga e a especializada, com textos leigos divergindo de artigos científicos. A literatura leiga afirma ser nítida a relação entre telefones celulares e aumento da probabilidade de desenvolver neoplasias do SNC.


Discrepâncias metodológicas também são encontradas na literatura médica. Há estudos que estabelecem a relação causal entre uso prolongado de celulares e neoplasias do SNC e outros que contestam essa afirmação. É importante salientar que há grande heterogeneidade nos desenhos dos estudos, especialmente no tocante ao tempo de seguimento.


Em 2015, um estudo contundente de Alexeiu e Sioka1 compilou a literatura pertinente ao assunto. Por meio de pesquisa ativa de artigos científicos, e com ampla gama de palavras-chave, encontraram 439 artigos. Deles, 52 foram analisados em pormenores e, dentre esses, 22 foram selecionados para análise estatística.


A análise desses artigos, que incluiu grande número de pacientes (6720 meningiomas e 7907 gliomas), não encontrou qualquer relação estatisticamente significativa entre o uso de telefones celulares e o aumento do número de casos de meningiomas e gliomas, quando comparados a grupo controle bem delineado. Chama atenção a inclusão do estudo denominado INTERPHONE,2 realizado em 16 centros médicos de 13 países. A análise pareada (grupo-controle) de 2.409 meningiomas e de 2.708 gliomas não mostrou qualquer diferença estatística entre os grupos estudados (casos de tumor vs. grupo controle bem pareado). Assim, verifica-se que estudos com grande número de pacientes tendem a descartar a relação entre telefone celular e neoplasias intracranianas, o oposto do que trazem amostragens menores.


Ademais, os estudos específicos sobre ondas eletromagnéticas e radiofrequência, e suas ações biológicas tendem a negar o potencial carcinogênico do telefone celular, haja vista a baixa energia utilizada nesses aparelhos.


Apesar de os grandes estudos não demonstrarem relação entre uso frequente e prolongado do telefone celular e desenvolvimento de neoplasias intracranianas, os dados da literatura ainda são insuficientes para se afirmar ou negar de modo categórico a existência ou não dessa relação causal. Recomenda-se, assim, cautela e parcimônia quando do uso do telefone celular. Uma as alternativas propostas é a utilização de fones de ouvido, medida cautelar válida que eliminaria a dúvida quanto a qualquer eventual malefício causado pelo telefone.


 Referências bibliográficas


  1. Alexiou GA, Sioka C. Mobile phone use and risk of intracranial tumors. J Neg Results Biomed. 2015;14:23.
  2. INTERPHONE Study Group. Brain tumour risk in relation to mobile telephone use: results of the INTERPHONE international case-control study. Int J Epidemiol. 2010;39:675-94.

 


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