Resistência Antimicrobiana

Resistência Antimicrobiana

Estimativas apontam que, no ano de 2050, 10 milhões de pessoas morrerão em decorrência das bactérias multirresistentes (contra 8,5 milhões por câncer), o que gerará um custo de US$ 100 trilhões. A disseminação de agentes patogênicos resistentes aos antibióticos tornou-se uma preocupação crescente em virtude do potencial para infecções bacterianas não tratáveis, o que conduziu a uma era pós-antibiótica. Na verdade, alguns especialistas têm equiparado a ameaça representada pela resistência aos antibióticos à do aquecimento global.


O uso inadequado de antimicrobianos é um dos fatores mais importantes no tocante à disseminação de bactérias resistentes. Há uma forte associação entre o uso de antimicrobianos e o surgimento de resistência bacteriana. Os Centers of Disease Control and Prevention (CDC), dos EUA, estimam que 20 a 50% de todos os antibióticos prescritos em hospitais americanos são desnecessários ou inadequados.


Entretanto, a culpa pela emergência de patógenos resistentes não é só médica. Mais de 13 milhões de quilos de antibióticos são usados anualmente em animais, o que corresponde a aproximadamente 80% de toda a quantidade de antibióticos consumida nos EUA. Há três mecanismos sugeridos pelos quais a resistência bacteriana em animais poderia ameaçar a saúde humana: (1) um ser humano é infectado por um patógeno resistente por meio do contato com o gado ou da ingestão de bactérias pelos alimentos ou pela água contaminada; (2) um ser humano torna-se colonizado por bactérias resistentes por um desses meios e, em seguida, dissemina-as para outra pessoa, que posteriormente fica doente; (3) os genes de resistência provenientes da agricultura são transmitidos aos seres humanos por meio da transferência horizontal de genes, e as cepas resistentes resultantes são selecionadas pelo uso de antibióticos nas pessoas.


Bactérias resistentes, como Campylobacter spp., Salmonella spp., Staphylococcus aureus (especialmente MRSA) e Enterococcus resistente à vancomicina, tiveram origem em animais. A União Europeia proibiu todos os antibióticos não terapêuticos em animais no ano de 2006 e a FDA (Food and Drug Administration), dos EUA, emitiu uma política em 2012 solicitando aos agricultores a redução voluntária do uso de antibióticos. No Brasil, ainda não há regulamentação específica.


A síntese de novos antimicrobianos mais potentes, à medida que as bactérias resistentes fossem surgindo seria, sem dúvida, uma medida bastante eficaz. No entanto, o desenvolvimento de novos antibióticos não tem acompanhado a evolução da resistência bacteriana, uma vez que, desde a década de 90, a investigação e a síntese de novos antibióticos recuaram por questões econômicas. Centenas de milhões de dólares são empregados no desenvolvimento de um novo antibiótico, o qual é normalmente prescrito a um paciente apenas durante alguns dias, investimento pouco compensatório em relação ao empregado no desenvolvimento de fármacos que tratem, por exemplo, doenças crônicas (como hipertensão e diabetes), utilizados por toda a vida.


Preocupada com o crescimento da resistência bacteriana (mais de 70% das bactérias patogênicas são resistentes a pelo menos um antibiótico), em março de 2015, a Casa Branca anunciou um plano de ação com investimento de U$ 1,2 bilhões para vigilância, diagnóstico e desenvolvimento de fármacos para o controle da resistência a antibióticos.


Vários métodos de implementação de uso racional de antimicrobianos têm sido utilizados para a melhoria na prescrição de antibióticos pelos médicos, o que inclui: a suspensão de antimicrobianos quando não há indicação (por exemplo, evitar agentes antibacterianos para infecções respiratórias virais em pacientes internados); a adequação das escolhas de antimicrobianos iniciais e das doses, o que pode ser otimizado seguindo orientações e protocolos existentes; o acompanhamento para ajuste de fármacos (por exemplo, quando o patógeno é resistente ao antibiograma); e o controle do prolongamento terapêutico desnecessário.


Nenhuma intervenção única pode resolver o problema. Entretanto, um programa de controle abrangente, que inclua vigilância ativa de resistência, fomento ao uso do antimicrobiano adequado e colaboração com um programa de controle de infecção hospitalar eficaz, é capaz de minimizar o surgimento e a disseminação da resistência bacteriana. Caso contrário, entraremos definitivamente na era pós-antibiótica, na qual voltaremos a morrer de pneumonia ou mesmo de uma simples furunculose.




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