Risco e Probabilidade Cardiovascular

Risco e Probabilidade Cardiovascular

Por Dr. Pedro Ivo De Marqui Moraes – “Qual é o meu risco de morrer de infarto?”


Essa pergunta, que poderia ser feita por você, por mim ou por um aflito paciente diante do seu médico, incomoda por pelo menos dois motivos. O primeiro, por falar de morte – até os médicos evitam falar desse assunto, que geralmente traz reflexões sobre espiritualidade, luto, medo e inexorabilidade. O segundo, pela pretensão de prever um evento dessa magnitude. Ora, como podemos prever o risco de morrer, ainda mais por uma causa específica como o infarto?


A probabilidade é inerente à vida e tem parte nas nossas mais triviais decisões. Qual a probabilidade de pegar fila no banco ao meio-dia? E de precisar de um guarda-chuva amanhã? A medicina não escapa à regra. Diz-se até que ela é uma arte de probabilidade, e uma ciência de incertezas (William Osler, 1849-1919). Felizmente, temos muitas certezas com os avanços científicos contemporâneos, mas nem todas.


É famoso o pioneiro estudo de Framingham, iniciado em 1948 com mais de 5.000 participantes na cidade norte-americana de Framingham, Massachusetts. A partir dele, foi possível identificar os principais fatores de risco cardiovasculares. Esse estudo também originou o pensamento linear, às vezes traiçoeiro, de que quanto maior o risco cardiovascular, maior a chance de morrer de infarto.


O SCORE, recentemente publicado pela Sociedade Europeia de Cardiologia, é um escore capaz de estimar a chance de morte por doenças cardiovasculares. Quase 200.000 pessoas de vários países europeus foram acompanhadas desde 1978 para o desenvolvimento dessa ferramenta de livre acesso por aplicativos virtuais. Basta anexar alguns dados para estimar o risco de um indivíduo morrer de infarto ou acidente vascular cerebral em 10 anos. Caso o risco seja maior que 5%, será necessário iniciar um tratamento agressivo e realizar mudanças de estilo de vida, pois esse indivíduo possui alto risco cardiovascular.


Dezenas de escores são propostos em todo o mundo. Framingham, SCORE, Reynolds, ASSIGN, ASCVD e Global são alguns exemplos. Praticamente todos avaliam o risco de eventos cardiovasculares em um período de 10 anos. É interessante notar que, independentemente da etnia ou da demografia da população, muitos fatores computados nos variados escores são iguais e incluem classicamente tabagismo, alterações de colesterol, hipertensão arterial, diabetes melito e obesidade.


Outros fatores de risco “menos clássicos” não são oficialmente computados na maioria dos escores, possivelmente porque os métodos de aferição e de estatística dos estudos não foram capazes de identificar de forma clara a magnitude de risco associada a eles. No entanto, é essencial que, em meio a nosso atribulado cotidiano, valorizemos ao máximo os preceitos de alimentação saudável, controle do estresse, exercício físico regular, qualidade de sono, entre outros. É reconhecido que esses fatores interferem diretamente no risco de eventos cardiovasculares.


Então, qual é o seu risco?


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