Saúde da Mulher e o Uso dos Dispositivos de Longa Duração

Saúde da Mulher e o Uso dos Dispositivos de Longa Duração

O Dia Internacional da Mulher surgiu no final do século XIX, a partir das reivindicações de mulheres por melhores condições de trabalho, remuneração e voto. Na década de 1960, foram desenvolvidas as primeiras pílulas contraceptivas, fato que revolucionou as gerações seguintes, permitindo o controle da fertilidade à mulher, aumentando de forma significativa sua participação, especialização e remuneração no mercado de trabalho.


Recentemente, a FEBRASGO se posicionou, sugerindo o uso dos dispositivos de longa duração (LARCs) como mais efetivos para contracepção. Os métodos mais tradicionais, como a pílula combinada e o preservativo, têm sido questionados, uma vez que o uso de preservativo na população mais jovem tem diminuído a cada ano, e o uso irregular das pílulas contraceptivas, principalmente por esquecimento, pode aumentar a falha do método.


Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 2013 mostrou queda no uso de preservativo masculino de 38,8% em 2004 para 34,2% em 2013 – entre jovens de 15 a 24 anos com parceiros fixos. Além disso, estamos vivendo uma epidemia de sífilis, gerando efeitos catastróficos na população em idade fértil, com índices em elevação de sífilis neonatal. Isso constata a ausência do uso de preservativo. No entanto, nenhum outro método contraceptivo é capaz de proteger contra o HIV e as doenças sexualmente transmissíveis (DST); por isso, a mulher em uso de qualquer outro método deve ser encorajada a também usar o preservativo para evitar o contágio.


Algumas progesteronas utilizadas em pílulas contraceptivas parecem aumentar o risco de trombose nessas usuárias, mas ainda não existe uma recomendação formal para a suspensão do seu uso.


A principal função dos métodos contraceptivos é evitar a gestação indesejada, que está associada diretamente a: depressão materna, aumento de risco de violência à criança, acompanhamento pré-natal irregular, uso de álcool e não aleitamento materno. Os recém-natos dessas gestações estão sob maior risco de baixo peso ao nascer, malformações congênitas e dificuldades de desenvolvimento físico e social na infância.


Os dispositivos de longa duração podem permanecer ativos por até 10 anos (como é o caso do DIU de cobre) e podem ser removidos caso a paciente apresente efeitos colaterais ou o desejo de engravidar. Existem poucas contraindicações ao método, e a maioria das mulheres é candidata ao uso de um desses dispositivos: adolescentes, nulíparas, pacientes com histórico de câncer ginecológicos (DIU de cobre – evita-se nestes casos o uso de dispositivos hormonais), trombose etc. Além disso, estes dispositivos não estão associados a efeitos colaterais sistêmicos, tais como diminuição de libido, depressão e ganho de peso, fatores mais frequentes em usuárias de terapia hormonal oral.


No Brasil, temos disponíveis três tipos de LARCs.


Dispositivo intrauterino (DIU) de cobre: composto por haste de polietileno recoberta por cobre. O cobre atua como espermicida. O dispositivo contém sulfato de bário para que se torne radiopaco. Atua de forma eficaz por até 10 anos, podendo ser retirado quando a paciente desejar. Sua inserção pode ser feita em consultório médico, com ou sem analgesia. O DIU de cobre é indicado para pacientes com desejo de contracepção por longo prazo até 10 anos, que não desejam fazer uso de hormônios exógenos, desejam ciclar mensalmente, não tenham menorragia, dismenorreia ou dor pélvica associada à endometriose. Esses sintomas podem piorar com o seu uso. Diferentemente do DIU medicado, o DIU de cobre pode ser utilizado como contracepção de emergência, se colocado até 120 horas após a relação sexual desprotegida. A disvantagem em relação ao DIU de levonorgestrel é a de não proteção contra infecções do trato genital superior, estando mais suscetível à doença inflamatória pélvica.



Dispositivo intrauterino hormonal (levonorgestrel): indicado para pacientes com desejo de diminuição do fluxo menstrual e/ou amenorreia. Grande parte das usuárias entra em amenorreia após 6 meses de uso. Tem duração de até 5 anos, podendo ser retirado a qualquer momento. O levonorgestrel é liberado localmente e atua sobre o endométrio, tornando-o não favorável à implantação, e sob o muco cervical, tornando-o espesso, protegendo contra infecções e dificultando a passagem dos espermatozoides. Pelo efeito endometrial e uterino, tem sido utilizado com bastante sucesso para tratamento de dismenorreia, adenomiose e hemorragia uterina disfuncional. Sua inserção pode ser feita em consultório médico, com ou sem analgesia.


 



Implante subcutâneo: trata-se de um implante liberador de progesterona (etonogestrel). Sua aplicação é feita em consultório, na parte interna do braço, e tem duração de até 3 anos. Pode ser retirado a qualquer momento. Apresenta alta eficácia contraceptiva por ação progestagênica no muco cervical e na redução da motilidade tubária.


Independentemente do método contraceptivo de escolha, devemos sempre estar atentos ao risco de contágio por doenças sexualmente transmissíveis. O ginecologista é o profissional mais adequado para auxiliar e indicar o melhor método contraceptivo para cada paciente, o que deve ser feito sempre em conjunto com o perfil e o desejo de cada paciente.


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