Sintomas da menopausa e o ritmo do coração

Sintomas da menopausa e o ritmo do coração

Recente pesquisa realizada por pesquisadores brasileiros e irlandeses, publicada na revista científica Plos One, verificou se o ritmo do coração pode fornecer informações sobre a intensidade dos sintomas da menopausa. Os pesquisadores Patrícia Merly Martinelli e Vitor Engrácia Valenti apresentam, nesta entrevista, os detalhes do estudo e os resultados encontrados.


GEN Medicina – Como foi realizada a pesquisa?
PMM/VEV - A pesquisa teve participação de pesquisadores da UNESP/Marília, da Faculdade de Medicina do ABC, do Centro Universitário Uninorte (Acre), da Universidade de São Paulo e da University of Limerick (Irlanda do Sul). O principal objetivo foi avaliar o ritmo cardíaco na transição da menopausa, por meio da variabilidade da frequência cardíaca (VFC), e os sintomas pós-menopáusicos com diferentes intensidades, bem como verificar se o ritmo do coração pode fornecer informações sobre a intensidade dos sintomas da menopausa.
A VFC é um método não invasivo, utilizado no mundo em pesquisas básicas e clínicas. Esse método analisa o ritmo cardíaco com base nas oscilações entre os intervalos de batimentos cardíacos. A partir disso, são calculados alguns índices, como o desvio padrão de todos os intervalos RR normais gravados em um intervalo de tempo (SDNN), a raiz quadrada da média do quadrado das diferenças entre intervalos RR normais adjacentes (RMSSD) e as bandas de alta e baixa frequência por meio da aplicação da Transformada rápida de Fourier no registro dos batimentos cardíacos.
Nessa pesquisa, nós utilizamos o índice de menopausa de Kupperman-Blatt (KMI) para medir a intensidade dos sintomas da menopausa. A análise da VFC foi realizada com base nas diretrizes da European Society of Cardiology e da North American Society of Pacing and Electrophysiology.
A VFC foi comparada entre dois grupos, um com sintomas leves de menopausa e outro com sintomas moderados/intensos da menopausa.


GEN Medicina – Qual foi o desenho do estudo?
PMM/VEV - Foi um estudo prospectivo, observacional e transversal, realizado em Rio Branco, Acre, de outubro de 2016 a julho de 2017. Analisaram-se mulheres com mais de 40 anos. Não foram incluídas aquelas em uso de antidepressivos, inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), betabloqueadores, terapia hormonal, com febre, cardiomiopatias, insuficiência cardíaca descompensada, sangramento genital anormal de causa desconhecida, qualquer tipo de alteração no traçado do ECG (arritmias, abaixo e/ou acima da elevação do segmento ST), registro da frequência cardíaca com menos de 95% do ritmo sinusal, tampouco as histerectomizadas e sem determinação precisa de menopausa.
As pacientes foram divididas em dois grupos: o de transição da menopausa (MT, n = 71), caracterizado por mulheres com ciclo menstrual irregular (ausência de pelo menos dois ciclos menstruais em 6 meses) e sintomas da menopausa; e o grupo da pós-menopausa (PM, n = 38), composto por mulheres com ausência de ciclo menstrual durante 12 meses, conforme definido pela North American Menopause Society. Utilizou-se o índice menopausal Kupperman-Blatt para medir a intensidade dos sintomas da menopausa.
Os intervalos entre os batimentos cardíacos foram registrados pelo monitor portátil RS800CX, com uma taxa de amostragem de 1 kHz. Os registros da frequência cardíaca foram então transferidos para o programa Polar Precision Performance (v.3.0, Polar Electro, Finlândia). O transmissor Polar detecta batimentos cardíacos no músculo ventricular esquerdo e transmite o sinal ao computador por meio de uma tecnologia sem fio. O software permitiu a visualização e a remoção do arquivo de intervalo RR no formato "txt". Todos esses procedimentos são validados cientificamente.


GEN Medicina – O que foi observado e quais os resultados?
PMM/VEV – Os índices RMSSD, pNN50 e a banda de alta frequência da VFC foram significativamente menores no grupo com sintomas moderados/intensos. Por outro lado, não foram encontradas diferenças significativas para os índices SDNN, banda de baixa frequência e razão entre as bandas de alta e baixa frequência.
Esses resultados mostraram que a VFC foi menor no grupo com sintomas moderados/intensos, indicando maior comprometimento do controle autonômico do ritmo cardíaco, em comparação ao grupo com sintomas leves.
A análise de regressão linear revelou interação significativa dos sintomas da menopausa com os índices SDNN, RMSSD, pNN50 e as bandas de alta e baixa frequência. Verificou-se também que o modelo abrangeu 21,4% dos fatores que influenciam o KMI.
Os resultados indicam que os sintomas somáticos da menopausa têm uma estreita relação com o ritmo cardíaco, que, além disso, apresentou associação significativa com transição da menopausa e sintomas pós-menopáusicos.


GEN Medicina – O que estes resultados sugerem?
PMM/VEV - Sugerem que os sintomas somáticos têm uma estreita relação com a VFC. Além disso, a VFC apresentou associação significativa com transição da menopausa e sintomas pós-menopáusicos.
Esses dados indicam que o ritmo cardíaco analisado pela VFC pode detectar a intensidade dos sintomas na transição e durante a menopausa, colaborando para métodos diagnósticos.
Nossos achados fornecem informações relevantes para a equipe clínica, que lida com a transição, e para as mulheres na pós-menopausa. Entender que a VFC ajuda a distinguir os sintomas da menopausa ajudará a planejar tratamentos para essa população específica.
Portanto, essa pesquisa fornece informações complementares capazes de ajudar a identificar o início dos sintomas da menopausa, o que é um desafio para os médicos, auxiliando nos cuidados com as mulheres.


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