Taquicardias de QRS estreito regulares

Taquicardias de QRS estreito regulares

As taquicardias de QRS estreito são ritmos com origem acima do feixe de His, com duração do complexo QRS < 120 ms e com frequência cardíaca > 100 bpm (nos adultos), ou com duração do QRS ≤ 90 ms e frequência cardíaca entre 130 e 300 bpm (em crianças e adolescentes).1,2 Sua prevalência é de 2,29/1.000 indivíduos, com maior risco entre aqueles com idade superior a 65 anos.3

Os sintomas consistem em palpitações, dispneia, dor torácica, poliúria (por aumento do hormônio natriurético atrial) e até mesmo síncope ou morte cardíaca súbita. As principais apresentações são: taquicardia por reentrada nodal e taquicardia atrioventricular por via acessória.


Taquicardia por reentrada nodal


Entre os adultos, a taquicardia por reentrada nodal (TRN) ocorre em 50 a 60% dos casos de taquicardia de QRS regulares e é mais frequente em mulheres, com média de idade de 32 anos.1,3 Em crianças e adolescentes, sua frequência é de 15% das taquicardias supraventriculares. Seu mecanismo é por reentrada com dupla via nodal, ou seja, com a presença de via alfa (de condução lenta do estímulo elétrico e período refratário curto) e via beta (com condução rápida e período refratário longo). Ao ocorrer extrassístole supraventricular, o estímulo elétrico passa pela via alfa, por via anterógrada, despolariza os ventrículos e alcança a via beta, resultando em despolarização retrógrada atrial.


Como o circuito é de miocrorreentrada, o intervalo PR’ – ou seja, do início do complexo QRS até a despolarização atrial retrógrada – é inferior a 80 ms, resultando também em pseudo r em V1 e/ou pseudo s nas derivações inferiores (D2, D3 e aVF) em até 60% dos traçados eletrocardiográficos durante a taquicardia. Nos demais casos, por estar sobreposta ao complexo QRS, a P’ não é visível. Esta é a apresentação eletrocardiográfica da TRN comum ou típica, a qual ocorre em 90% dos casos de TRN.3,4


Taquicardia atrioventricular por via acessória


A taquicardia atrioventricular por via acessória ocorre em cerca de 30% dos adultos com taquicardia de QRS estreito regular e até 70 a 90% na população pediátrica.1,2 A média de idade de sua manifestação é de 23 anos. Faz parte da síndrome de Wolf-Parkinson-White. Há uma via acessória ou anômala, a qual faz a conexão entre o átrio e o ventrículo, ao longo do anel mitral ou tricúspide ou no septo, e raramente com o sistema de condução. Sua localização mais frequente é na parede livre à esquerda, seguida da região posterosseptal. Em 90 a 95% dos pacientes, a via acessória apresenta condução anterógrada e retrógrada. Por isso, em ritmo sinusal, quando a via é manifesta, há a presença de empastamento inicial do complexo QRS, intervalo PR curto (pela condução anterógrada pela via) e alterações secundárias da repolarização ventricular. Quando ocorre uma extrassístole supraventricular, o estímulo passa pelo nó atrioventricular, despolariza o ventrículo e alcança a via acessória, pela qual passa retrogradamente e despolariza o átrio, iniciando a taquicardia ortodrômica. Como o circuito é de macrorreentrada, o intervalo RP’ é superior a 80 ms. Apenas em 5% dos casos a via acessória apresenta somente condução anterógrada e a taquicardia será antidrômica, a qual apresenta o complexo QRS largo.3,4


Tratamento na fase aguda


As manobras vagais e a adenosina são classe I de recomendação, sendo as modalidades de primeira escolha. A manobra de Valsalva apresenta taxa de sucesso de até 54% e massagem do seio carotídeo de 25%. A adenosina apresenta taxa de sucesso de até 96%, com dose inicial de 0,1 a 0,2 mg/kg por via endovenosa. O verapamil é classe IIa de recomendação para reversão dessas taquicardias, assim como os betabloqueadores. Se o paciente apresentar instabilidade hemodinâmica ou houver insucesso do antiarrítmico eleito, a cardioversão elétrica está indicada.3,5


Referências bibliográficas

  1. Blomstrom-Lundqvist C et al. ACC/AHA/ESC guidelines for the management of patients with supraventricular arrhythmias--executive summary: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines and the European Society of Cardiology Committee for Practice Guidelines (Writing Committee to Develop Guidelines for the Management of Patients With Supraventricular Arrhythmias). Circulation. 2003;108:1871-1909.
  2. Kleinman ME et al. Part 14: Pediatric advanced life support: 2010 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care.Circulation. 2010;122(18 Suppl 3):S876-908.
  3. Page RL et al. 2015 ACC/AHA/HRS Guideline for the Management of Adult Patients With Supraventricular Tachycardia: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines and the Heart Rhythm Society. J Am Coll Cardiol.  2015; S0735- 1097(15)05840-4.
  4. Silva RMFL. Arritmias cardíacas. In: Bacarrini MT, Starling SV (Ed). Erazo, Manual de Urgências em Pronto-Socorro. 10ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. pp. 655-684.
  5. Lisboa da Silva RMF, Roever L. Typical Atrioventricular Nodal Reentrant and Orthodromic Atrioventricular Tachycardias: Electrocardiographic, Electrophysiological Diagnosis and Treatment. Arrhythm Open Access. 2016; 1:109.

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