Telemedicina além da pandemia
- 23 de jul de 2020
Sabemos que a pandemia da Covid-19 tem semelhanças com a da gripe espanhola, também de alcance mundial e com um impacto devastador. A gripe infectou mais de 500 milhões de pessoas e fez cerca de 50 milhões de vítimas entre os anos de 1918 e 1920. Atualmente, o novo coronavírus já causou mais de 300 mil vítimas, mais de 14 mil só no Brasil. A similitude que quero tratar aqui não é a de quantas pessoas tiveram suas vidas afetadas por essas doenças, mas sim o fato de que as duas proporcionaram o direcionamento da atenção, tanto da população quanto de seus governos, para o sistema de saúde.
Diante do caos gerado pela gripe espanhola, foi destravado o debate sobre a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, efetivada em 1919. Novamente, estamos diante de um cenário complicado, gerado por uma pandemia e, mais uma vez, um assunto de extrema importância é colocado em pauta: a Telemedicina, que há muitos anos está pendente de regulamentação e ser devidamente estabelecida no Brasil.
Com a rápida evolução da Covid-19 no País, a telemedicina, até então restrita no Brasil, era permitida apenas em casos específicos e emergenciais, como na emissão de laudos a distância e na prestação de suporte diagnóstico ou terapêutico, sempre com a coparticipação de um médico presencial junto ao paciente e o especialista à distância. Esta medida foi regulamentada temporariamente.
Agora durante a crise, foram liberados a teleorientação, o telemonitoramento e a teleinterconsulta. Adicionalmente, foi liberada a teleconsulta, ou seja, o atendimento direto do médico ao paciente remoto. Essa liberação do uso da teleconsulta é muito importante para reduzir as barreiras de acesso que os pacientes estão enfrentando. O “grande X” da questão aqui é que, apesar de toda a tecnologia avançada que já existe em nossa medicina, grande parte dos profissionais ainda não está capacitada para lidar com esse novo recurso.
Em nosso país, a telemedicina tem andado bem lentamente rumo ao desenvolvimento. Levamos 16 árduos anos para conseguirmos uma regulamentação que tão logo foi derrubada no ano passado pelo medo do desconhecido e do novo (nem tão novo assim). Hoje, portanto, falta para a telemedicina não mais a atenção, mas sim a profissionalização na área.
Se pensarmos no quanto poderíamos ter avançado neste período, entendo que perdemos um precioso tempo de dedicação e desenvolvimento. Hoje nos faltam profissionais capacitados e tecnologias qualificadas para lidar com tal segmento. Além do mais, o que falta é uma visão maior para entender seus pormenores. Compreender que a telemedicina é o futuro e, também, o presente. A tecnologia nos cobra avanços não só em curas e vacinas, mas sempre também na forma de uma melhor atenção aos pacientes.
Apesar de ser uma medida provisória, vejo com bastante otimismo essa liberação da telemedicina como sendo a chance de capacitarmos os profissionais da saúde, mas também de propormos a inserção da Telemedicina, Telessaúde e Saúde Digital no currículo dos universitários da saúde; assim como o reconhecimento da área de pesquisa pelos órgãos competentes.
Talvez, esse seja o momento tão esperado para unirmos forças entre os excelentes médicos, profissionais da saúde e da tecnologia da informação, a fim de criarmos um panorama de avanço para um novo cenário em nosso sistema de saúde, seja ele público ou privado. Temos em nossas mãos a oportunidade de inserir a telemedicina de vez no nosso dia a dia e criarmos novos procedimentos para aliviar as tensões e salvar vidas, com segurança e integridade das informações, acessos seguros e responsabilidade ética, assegurando a participação do profissional e do paciente.
Os cirurgiões e demais profissionais da saúde brasileiros são extremamente respeitados internacionalmente. A telemedicina se estabelece também como uma grande janela de demonstração em tempo real do conhecimento, habilidade e perícia, fundamentais à promoção integral da saúde.