Vitamina D
- 25 de jul de 2016
A vitamina D, uma vitamina lipossolúvel, é fundamental para a homeostase do cálcio e o desenvolvimento saudável do osso. Por outro lado, muitos dados têm ligado a vitamina D a funções biológicas de ação extraóssea, funcionando como um hormônio de atuação endócrina, autócrina e parácrina.
Essa vitamina é encontrada naturalmente em poucos alimentos, sendo produzida endogenamente sob a ação dos raios ultravioletas na pele. Sua produção é alterada com o envelhecimento e a obesidade, situações em que sua síntese passa a ocorrer em menor proporção. A pele negra absorve menos luz solar, associando-se à deficiência de vitamina D.
Segundo algumas fontes, a vitamina D regula potencialmente muitas outras funções celulares, que vão além dos efeitos relacionados ao Ca. Ela tem efeitos sobre os sistemas cardiovascular, imunológico e metabólico, além da função muscular, e implicações em doenças como diabetes, cânceres (principalmente de próstata, cólon, mama e leucemia), doenças cardiovasculares, cerebrovasculares, doença de Crohn e esclerose múltipla. São relatados ainda efeitos anti-hipertensivos, analgésicos, antagonistas da depressão e sobre o declínio cognitivo.
Estudos prospectivos e retrospectivos, entretanto, apenas sugerem que a deficiência de vitamina D esteja associada ao maior risco do desenvolvimento dessas doenças, não existindo evidências desses benefícios ou mesmo de melhora da qualidade de vida.
À luz de estudos, esses dados apresentam controvérsias, sendo fracos os que suportam o efeito protetor cardiovascular do suplemento de vitamina D. Entretanto, os grandes ensaios clínicos controlados que estão sendo realizados na atualidade poderão esclarecer essa questão.
Alguns artigos científicos mencionam a probabilidade de os níveis baixos de vitamina D contribuírem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, e concluíram que ainda faltam estudos que suportem tal afirmativa.
Kendrick J et al. (Atherosclerosis. 2009;205(1):255) realizaram uma análise transversal, a partir de dados do Third National Health and Nutrition Examination Survey (1988-1994), avaliando a associação entre os níveis séricos de 25-hidroxivitamina D (25 OHD) e a prevalência de doença cardiovascular, analisada pela autorreferência de angina, infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico em uma população de 16.603 homens e mulheres com idade acima de 18 anos. Os autores concluíram que existe uma forte e independente relação entre a deficiência de 25 OHD e a prevalência de doença cardiovascular nessa amostragem representativa da população adulta dos EUA.
No National Health and Nutrition Examination Study (NHANES) 2001-2004, a prevalência de doença coronária (angina e infarto do miocárdio) foi mais comum em adultos com níveis de 25 OHD < 20 ng/ml quando comparada com níveis ≥ 30 ng/ml. Contudo quando ajustada para outros fatores de risco e para o uso de suplementos de vitamina D, houve atenuação do risco.
Mais recentemente, Elamin MB et al. (J Clin Endocrinol Metab. 2011;96(7):1931) analisaram diversos estudos randomizados de associação entre baixos níveis de 25 OHD e hipertensão arterial, calcificação de artéria coronária e doença cardíaca. Foram encontrados 51 estudos elegíveis de moderada qualidade para a análise. Os pesquisadores concluíram que os dados disponíveis são insuficientes para demonstrar redução estatisticamente significativa no risco e na mortalidade cardiovasculares associada a baixos níveis de 25 OHD. Também não foi observado nenhum efeito benéfico com a suplementação de vitamina D.
Os grandes estudos, incluindo metanálises, não encontraram benefícios da suplementação de vitamina D para a redução de risco de doença cardiovascular.
Por outro lado, a associação entre deficiência de vitamina D e outras doenças (p. ex., neoplasias) ainda não se encontra bem-esclarecida, bem como possíveis efeitos benéficos da sua suplementação.
Tem–se observado que os níveis de 25 OHD são mais baixos nos indivíduos diabéticos, mas a relação causal não está estabelecida.
Em resumo, os efeitos ósseos da vitamina D encontram-se sedimentados. A sua suplementação (700 a 1.000 unidades/dia) contribui para a redução do risco de quedas em pacientes idosos. Entretanto, a relação causal entre baixos níveis de vitamina D, câncer, infecções e doenças metabólicas, cardiovasculares e autoimunes ainda não se encontra estabelecida, persistindo a recomendação de suplementação de vitamina D em doses indicadas para osteoporose e para a prevenção de quedas.
Esses achados indicam que outros estudos são necessários para a aplicabilidade da suplementação da vitamina D na prática clínica, atualmente tão irrestritamente difundida.
Por outro lado, o crescente número de indivíduos que fazem uso de suplementos de vitamina D em altas doses é atualmente uma grande preocupação, pois tal suplementação pode não ser segura, principalmente em indivíduos portadores de problemas vasculares, renais e hepáticos.
Bibliografia
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National Health and Nutrition Examination Study (NHANES) 2001-2004.
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