Abordagem da agitação psicomotora

Abordagem da agitação psicomotora

A agitação psicomotora é um fenômeno frequente e uma condição clinicamente relevante em pacientes com transtornos psiquiátricos, não apenas em situações de urgência, mas também em ambientes hospitalares e ambulatoriais1. A agitação, com ou sem agressividade, é responsável por 2,6% a 52% de todas as emergências psiquiátricas em no mundo2-8 e 23,6% a 23,9% (~24%) das emergências psiquiátricas no Brasil9,10.

A triagem começa no primeiro contato com o paciente agitado e envolve observação direta e uma tentativa de estabelecer um diálogo11,12. O objetivo é distinguir os pacientes que requerem atenção imediata daqueles que podem esperar a sua vez ou ser encaminhados para um atendimento ambulatorial12.

No Projeto Beta, Nordstrom et al.13 é sugerido o uso da escala BARS para a triagem e a tomada de decisão em ambientes não médicos. Basicamente, pacientes com níveis reduzidos de consciência que não respondem ou não podem ser despertados devem ser encaminhados imediatamente para um departamento de emergência médica.

Pacientes sonolentos que respondem normalmente ao contato verbal ou físico, pacientes sonolentos que parecem sedados ou pacientes violentos que necessitam de contenção física devem ser enviados para uma unidade de emergência médica ou para um serviço de emergência psiquiátrica com apoio de ambulância. Para pacientes que apresentam sinais de agitação, que não exijam contenções físicas ou que se acalmem quando instruídos, deve-se tentar abordagem verbal para reduzir a agitação (técnica de desescalada verbal). Se isso falhar, o paciente deve ser encaminhado ao serviço de emergência12,13.

Em casos de agitação psicomotora, com ou sem agressividade, o objetivo principal é proteger o paciente e as pessoas ao seu redor, adotando atitudes e medidas que mantenham o paciente em situação confortável1,12,14-16. Caso o diálogo respeitoso ou desescalada verbal falhem, parte-se para medidas de proteção medicamentosa. Nesse caso, usa-se o conceito de tranquilização farmacológica rápida – acalma-se o paciente sem sedação excessiva (ou mesmo nenhuma) - ao usar medicamentos deve-se escolher os de ação rápida com efeitos colaterais mínimos1,12,14-17.

Se todas as medidas falharem, procede-se a contenção física associada sempre ao uso de tranquilização rápida. Esta é definida como qualquer forma física ou mecânica que contenha o paciente e que não pode ser facilmente removida1,12,18,19. Esses dispositivos limitam o movimento do indivíduo, com a função principal de proteger o paciente de si mesmo19,20. A contenção física é uma prática empregada em emergências psiquiátricas. É um método útil para prevenir lesões e reduzir a agitação. A literatura sugere que é quase impossível manter um programa para indivíduos com transtornos graves e agudos sem o uso de contenção18,21. As contenções físicas são utilizadas em 3,8% a 26% dos pacientes psiquiátricos em observação hospitalar22,23.

Por fim, ressalta-se que todas as equipes de saúde devem ser treinadas para lidar com tais situações e melhorar continuamente sua técnica, a fim de garantir um resultado favorável. Nesse sentido, a literatura e a Medicina Baseada em Evidências tornam-se instrumentos essenciais.

 

 

 

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