O que é uma proposta terapêutica?

O que é uma proposta terapêutica?

A expressão “proposta terapêutica”, cada vez mais frequente na linguagem médica justifica-se pelo fato de que é “dever” do médico, após identificar a doença, propor ao paciente o tratamento que ele (médico) considera mais adequado naquele momento e naquelas circunstâncias, levando em conta aspectos clínicos, cujo foco costuma ser a lesão ou a disfunção, ao lado de outros aspectos, que não podem ser esquecidos – que estão sempre presentes –, como operacionais, éticos, legais, socioculturais, financeiros e econômicos.


O paciente, por sua vez, tem o “direito” de aceitar ou não a proposta. Esta é a lógica do princípio da autonomia. Nas emergências, este princípio, embora nunca inteiramente revogado, passa para segundo plano, substituído pelo princípio da beneficência.


A proposta terapêutica tanto pode ser uma intervenção instrumental ou cirúrgica ou a prescrição de medicamentos, como pode ser também modificações da alimentação, prática de exercícios físicos ou qualquer outro recurso com capacidade de aliviar sintomas, controlar ou curar uma doença.


Medicamentos costumam ser parte importante do tratamento. É deles que falaremos neste artigo.


A antiga “arte de formular”, que era a capacidade do médico escolher as substâncias, com as respectivas doses, a serem manipuladas pelo farmacêutico, na forma de cápsulas ou poções, foi substituída pela “arte de prescrever”, que é a capacidade de escolher o(s) medicamento(s) que se considera indicado(s) para aquele paciente.


A proposta terapêutica é o momento culminante do ato médico. O sucesso ou o fracasso depende da capacidade do médico de “personalizar” ou não um tratamento, tendo em conta não apenas a “lesão” ou a “disfunção”, mas também todas as peculiaridades daquela pessoa, incluindo idade, sexo, etnia, comorbidades, condições socioeconômicas e culturais. Mais do que nunca, não se pode esquecer de que os doentes nunca são exatamente iguais, mesmo quando a doença é exatamente a mesma.


O “ato de prescrever”, aparentemente tão simples, precisa ser praticado com alto nível de competência e responsabilidade. Ao receitar um medicamento, damos início a uma sequência de fatos e acontecimentos que incluem não apenas a pretendida ação farmacológica de uma substância química, mas também efeitos colaterais, gasto de dinheiro, interferência na vida do paciente e até de outras pessoas. É bom lembrar que os familiares podem ser profundamente atingidos quando o médico decide por um ou outro tipo de tratamento.


Por tudo isso, sempre é mais correto falar em “proposta terapêutica”. A expressão “proposta” significa que, para ter sucesso, o planejamento de um tratamento tem de ser feito de comum acordo com o paciente e seus familiares. Assim procedendo, o melhor que pode acontecer é aumentar a adesão, condição fundamental para o sucesso do tratamento. É verdade que não se pode prever tudo que poderá acontecer com o paciente. A resposta a qualquer medicamento depende não só do que se aprendeu sobre ele em ensaios clínicos, mas também da maneira como “aquele” paciente vai reagir à introdução daquela substância em seu organismo. Mas não é só isso. Sempre dei muita importância a questões econômicas ao prescrever um medicamento. O médico tem obrigação de abordar este lado ao fazer a proposta.


Quanto mais clara a proposta mais compreensível ela se tornará. Compreendendo-a perfeitamente, o paciente pode analisá-la sob todos os ângulos que lhe interessam. Não despreze nenhum deles. Por exemplo, um medicamento que costuma causar sonolência pode ser inconveniente para um paciente e muito interessante para outro. Questões simples como esta é que estão embutidas na afirmativa de que todo planejamento terapêutico precisa ser “personalizado”.


Toda vez que se pensar em prescrever um medicamento, “olhe” para o paciente que tem diante de você e veja não apenas a “lesão” ou a “disfunção” sobre a qual quer interferir, mas estenda seu olhar ao contexto no qual o paciente está inserido. Se ele tiver hipertensão arterial, por exemplo, lembre-se que ele não é apenas um sistema circulatório com níveis pressóricos elevados; é uma pessoa que tem família, trabalho, expectativas, obrigações. Lembre-se de pensar em tudo isso para exercer uma medicina de excelência.


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