Criança com obesidade | Riscos, prevenção e tratamento
- 28 de out de 2019
A obesidade consiste em uma doença grave que pode afetar não só adultos, mas crianças e adolescentes. Crianças com obesidade estão acima do peso normal para sua idade e altura, e os quilos extras preocupam porque, muitas vezes, contribuem para problemas de saúde considerados, no passado, doenças apenas de adultos, como diabetes melito tipo 2, pressão e colesterol altos.
Crianças com obesidade costumam se tornar adultos obesos, principalmente se um ou ambos os pais também sofrerem do problema. A obesidade infantil pode causar baixa autoestima, sentimentos de inferioridade, estigma social (bullying) e depressão.
Entre as estratégias mais importantes para reduzir a obesidade infantil estão melhorar os hábitos alimentares e a prática de exercícios físicos de toda a família. Tratar e prevenir a obesidade ajuda a proteger a saúde da criança hoje e no futuro.
O índice de massa corporal (IMC), que avalia o peso em relação à altura, representa uma medida aceita para determinar sobrepeso e obesidade. O médico usa gráficos de IMC para verificar se o resultado obtido está normal para a faixa etária e o sexo, e, se necessário, solicita outros testes para definir se o peso da criança pode causar problemas de saúde.
Caso haja a preocupação de que seu filho possa estar ganhando muito peso, converse com um médico, que avaliará a história de crescimento e desenvolvimento de seu filho, a posição que ocupa nas tabelas e nos gráficos, bem como o histórico de peso por altura da família. Isso pode ajudar a indicar se o peso da criança está em uma faixa saudável ou não.
O estilo de vida – pouca atividade e muitas calorias provenientes de alimentos e bebidas – consiste no principal contribuinte para a obesidade infantil. Contudo, fatores genéticos e hormonais também podem desempenhar um papel. Por exemplo, pesquisas recentes descobriram que mudanças nos hormônios digestivos são capazes de afetar os sinais que permitem que uma pessoa saiba que ela está satisfeita.
Muitos fatores, geralmente em combinação, aumentam o risco de uma criança desenvolver obesidade:
- Dieta: o consumo regular de alimentos muito calóricos, como fast-food, salgados e lanches provenientes de máquinas de venda automática, bem como doces, sobremesas e, segundo diversas evidências, bebidas açucaradas (inclusive sucos de frutas) pode fazer seu filho ganhar peso
- Falta de exercício: crianças que não se exercitam adequadamente são mais propensas a ganhar peso visto que não queimam tantas calorias. Muito tempo gasto em atividades sedentárias, como assistir televisão ou jogar videogame, também contribui para o problema
- Fatores familiares: caso seu filho seja proveniente de uma família de pessoas com excesso de peso, ele pode ser mais propenso geneticamente a engordar. Principalmente se o ambiente em que vive for repleto de alimentos altamente calóricos, sempre disponíveis, e a atividade física não for incentivada
- Fatores psicológicos: estresse pessoal, parental e familiar pode aumentar o risco de obesidade da criança. Algumas comem demais para lidar com problemas ou emoções ou para combater o tédio
- Fatores socioeconômicos: em algumas comunidades, as pessoas têm recursos e acesso limitados aos supermercados. Por esse motivo, podem comprar alimentos de conveniência, que não estragam rapidamente, como refeições congeladas e biscoitos. Além disso, as pessoas que vivem em bairros de baixa renda podem não ter acesso a parques ou a um local seguro para se exercitar.
A obesidade infantil pode trazer complicações para o bem-estar físico, social e emocional, entre elas:
- Diabetes melito tipo 2: afeta o modo como o corpo usa o açúcar (glicose). Obesidade e estilo de vida sedentário aumentam o risco da doença
- Síndrome metabólica: trata-se de um conjunto de condições que eleva o risco de doença cardíaca, diabetes ou outros problemas de saúde. As condições incluem pressão alta, açúcar elevado no sangue, triglicerídio (gordura) elevado, HDL (colesterol bom e protetor) baixo e excesso de gordura abdominal
- Pressão e colesterol altos: dieta de má qualidade pode propiciar que a criança desenvolva uma ou ambas as condições. Esses fatores contribuem para o acúmulo de placas nas artérias e fazer com que elas se estreitem e endureçam
- Asma: crianças com excesso de peso ou obesidade apresentam maior probabilidade de desenvolver essa enfermidade
- Distúrbios do sono: a apneia obstrutiva do sono representa uma doença potencialmente grave, na qual a respiração da criança é interrompida repetidamente durante o sono
- Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA): geralmente não causa sintomas, mas propicia o acúmulo de depósitos de gordura no fígado. Como consequência, pode haver dano hepático e a enfermidade evoluir, na idade adulta, para inflamação e fibrose, o que aumenta o risco de câncer de fígado
- Fraturas ósseas: crianças obesas são mais propensas a fraturas do que as com peso normal.
Caso seu filho esteja atualmente com peso saudável, é possível tomar medidas para mantê-lo, como:
- Limitar ou evitar o consumo de bebidas açucaradas
- Oferecer muitas frutas e legumes
- Fazer refeições em família sempre que possível
- Evitar comer fora e, quando o fizer, ensinar seu filho a fazer escolhas mais saudáveis
- Ajustar os tamanhos das porções apropriadamente para a idade
- Limitar a TV e o "tempo de tela" (como celular e tablet) a menos de 2 h por dia para crianças com mais de 2 anos; aquelas com idade inferior não devem ter acesso a esses aparelhos
- Certificar-se de que seu filho durma o suficiente (pelo menos 8 h)
- Levar seu filho para consulta médica pelo menos uma vez por ano.
O tratamento da obesidade envolve alimentação saudável. Os pais são quem costumam comprar mantimentos, preparar refeições e decidir onde a comida é consumida. Mesmo as pequenas mudanças são capazes de fazer uma grande diferença na saúde da criança. Algumas dicas incluem:
- Fazer refeições em família; esse é um momento para compartilhar notícias e histórias. Desencorajar refeições em frente à TV, computador ou videogame, o que pode propiciar uma alimentação rápida, automática e sem consciência da quantidade ingerida
- Servir tamanhos de porção apropriados. As crianças não precisam de tanta comida quanto os adultos. Permitir que seu filho coma até ficar satisfeito, mesmo que deixe comida no prato. Assim que possível, deixar a criança se servir.
Uma parte essencial do tratamento é a atividade física. Ela queima calorias, fortalece ossos e músculos e ajuda as crianças a dormirem bem à noite e a ficarem alertas durante o dia.
Bons hábitos estabelecidos na infância ajudam os adolescentes a manter o peso saudável; crianças ativas são mais propensas a se tornarem adultos fisicamente ativos. Para aumentar o nível de atividade do seu filho:
- Enfatizar a atividade, não o exercício. As crianças devem praticar atividades moderadas ou vigorosas por, pelo menos, 1 h por dia, e não precisa ser um programa estruturado de exercícios. O objetivo é fazer ele se mover com brincadeiras livres, como esconde-esconde, pular corda ou pega-pega
- Encontrar atividades que seu filho goste. Por exemplo, se ele tem inclinação artística, proponha uma caminhada na natureza para coletar folhas e pedras para que ele possa fazer uma colagem. Se o seu filho gosta de escalar, leve-o a uma parede de escalada. Se aprecia ler, caminhe ou ande de bicicleta até a biblioteca ou a livraria mais próxima.
Para adolescentes, já existe um medicamento indicado para ajudar na perda de peso e na sua manutenção. Possivelmente, em um futuro próximo, outros também serão aprovados.
A cirurgia bariátrica pode ser uma opção para adolescentes gravemente obesos que não conseguiram perder peso por meio de mudanças no estilo de vida. No entanto, como em qualquer tipo de cirurgia, existem riscos potenciais e complicações no longo prazo. Discuta os prós e os contras com o médico de seu filho. A cirurgia em adolescentes ainda é considerada experimental e só deve ser feita dentro de um protocolo, em hospitais adequados.
A cirurgia pode ser recomendada pelo médico caso o peso de seu filho represente uma ameaça maior à saúde do que os riscos potenciais da cirurgia. É importante os pais e a criança se reunirem com uma equipe de especialistas em pediatria, inclusive um endocrinologista pediátrico, psicólogo e nutricionista.
A cirurgia bariátrica não representa uma cura milagrosa nem garante que um adolescente perca todo o seu excesso de peso e seja capaz de mantê-lo, tampouco substitui a necessidade de uma dieta saudável e atividade física regular.
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