Estimativas apontam que casos de câncer são causados por infecções
- 7 de abr de 2020
Estima-se que 13% de todos os casos de câncer em 2018 possam ser atribuídos a infecções, segundo nova pesquisa global do Grupo de Estudos em Infecção e Epidemiologia do Câncer, da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) da França. Isso representa cerca de 2,2 milhões de casos de câncer diagnosticados em todo o mundo, o que corresponde a uma taxa de incidência padronizada por idade (ASIR) de 25 casos por 100 mil pessoas/ano.
As principais causas foram Helicobacter pylori (H. pylori), papilomavírus humano (HPV), vírus da hepatite B (HBV) e vírus da hepatite C (HCV). É importante notar que um terço de todos os casos globais de câncer atribuíveis à infecção ocorreu na China, tendo sido 42% causados por H. pylori e 69% por HBV.
Liderado por Catherine De Martel, do Grupo de Epidemiologia de Infecções e Câncer da IARC, pela primeira vez um estudo estimou as taxas de incidência de câncer atribuível a infecções, possibilitando auxiliar a conscientização e a prevenção do câncer, que tende a ser visto como uma doença não transmissível.
Uma associação causal entre certas infecções e malignidades humanas já está bem estabelecida, comentam os autores. Pesquisas anteriores descobriram que H. pylori, HBV, HCV e HPV foram responsáveis por 1,9 milhão de 12,7 milhões de casos de câncer relatados em 2008, a maioria sendo câncer gástrico, hepático e do colo do útero.
Para a análise mais atual, os autores utilizaram o banco de dados GLOBOCAN 2018. Eles estimaram as porcentagens atribuíveis e a incidência global de cânceres específicos que já foram associados a patógenos infecciosos. Os números absolutos foram calculados no nível do país e estratificados por sexo, faixa etária e região.
Os resultados mostraram que o H. pylori foi responsável por 810 mil novos casos de câncer em 2018 (8,7 casos por 100 mil pessoas/ano), principalmente subjacente ao adenocarcinoma gástrico não cárdico. Seguiu-se o HPV, responsável por 690 mil novos casos (8 casos por 100 mil pessoas/ano), causando principalmente o carcinoma do colo uterino. O HBV contribuiu para 360 mil novos casos, e o HCV para 160 mil novos casos, ambos causando principalmente carcinoma hepatocelular.
Outros agentes infecciosos, incluindo o vírus Epstein-Barr, o vírus linfotrópico de células T humanas tipo 1 (HTLV) e o herpesvírus humano tipo 8 (também conhecido como herpesvírus do sarcoma de Kaposi), e infecções parasitárias contribuíram para os 210 mil casos restantes.
Variação por sexo e renda
No geral, homens e mulheres foram igualmente afetados por cânceres causados por infecções, mas os tipos de patógenos e do próprio câncer variaram de acordo com o sexo e a região geográfica. O leste da Ásia teve as maiores taxas de infecção, com 37,9 casos por 100 mil pessoas/ano, seguido de perto pela África Subsaariana. Por outro lado, o menor número de casos ocorreu no norte da Europa e no oeste da Ásia.
Em 2018, a China foi responsável por 35% (780 mil) dos novos casos atribuíveis à infecção, dos quais 340 mil estavam vinculados ao H. pylori e 250 mil ao HBV. A Coreia do Sul também teve uma incidência muito alta de câncer causada pela infecção por H. pylori (35,2 casos por 100 mil pessoas/ano), assim como o Japão.
A incidência de casos de câncer relacionados ao HBV foi igualmente alta na Coreia do Sul. O carcinoma do colo uterino é responsável por aproximadamente 80% dos cânceres (n = 570.000) que podem ser atribuídos ao HPV. As mulheres foram as mais afetadas, representando 90% dos 690 mil casos caracterizados em todo o mundo. Essas proporções foram maiores nos países de baixa renda. Já em países de renda mais alta, foram maiores as proporções dos outros tipos de câncer anogenital relacionado ao HPV, juntamente com câncer de cabeça e pescoço, principalmente nos homens.
Deve-se enfatizar que os dados apresentados aqui são um instantâneo da carga do câncer atribuível às infecções em todo o mundo em 2018, e comparações com resultados anteriores não são possíveis devido a alterações nas fontes de dados, principalmente nas estimativas de incidência de câncer, bem como outras modificações metodológicas.
O estudo foi financiado pela IARC e os autores relatam não ter relações financeiras relevantes.
Bibliografia
de Martel C, Georges D, Bray F, Ferlay J, Clifford GM. Global burden of cancer attributable to infections in 2018: a worldwide incidence analysis. Lancet Glob Health. 2020;8(2):e180-e190.