Plenária do Congresso Americano de Oncologia Clínica

Plenária do Congresso Americano de Oncologia Clínica

Pela primeira vez na história, o congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, a ASCO, acontece de forma virtual. Congregando aproximadamente 45 mil participantes de todo o mundo, este se tornou o maior evento mundial de oncologia. Anualmente, novas descobertas e resultados de estudos clínicos são ansiosamente aguardados por especialistas e pacientes. Este ano, 5 trabalhos foram selecionados para apresentação na sessão plenária, que destaco neste artigo. Certamente, são trabalhos muito bem selecionados e cujos resultados vão permear os debates ao longo do ano.


Em câncer de pulmão, o estudo ADAURA avaliou se uma terapia alvo de nova geração anti-EGFR, chamada osimertinibe, poderia prolongar a sobrevida de pacientes com doença localizada, após cirurgia tumoral completa e quimioterapia adjuvante, quando indicada.1 Pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas, que apresentam mutações no gene EGFR, foram submetidos à randomização para receber osimertinibe ou placebo como terapia adjuvante, por até 3 anos.1 Houve um aumento da sobrevida livre de doença no braço de osimertinibe [hazard ratio (HR) 0,17; intervalo de confiança DE 95% (IC95%) 0,12-0,23; p<0,0001)].1 Em 2 anos, a sobrevida livre de doença foi de 90% no braço de osimertinibe, versus 44% no de placebo. Esta terapia já era aprovada mundialmente no cenário de doença metastática e agora pode se tornar um novo padrão para pacientes submetidos à cirurgia curativa.


A pesquisa da instabilidade de microssatélites (MSI) tornou-se essencial em pacientes com carcinoma colorretal, dada sua relevância prognóstica e preditiva de resposta à imunoterapia. No estudo KEYNOTE-177, pacientes com câncer colorretal metastático, que apresentavam MSI elevado, foram tratados na primeira linha com pembrolizumabe (uma imunoterapia anti-PD-1) ou um esquema tradicional de quimioterapia mais anticorpos monoclonais bevacizumabe ou cetuximabe.2 O estudo confirmou a superioridade de pembrolizumabe neste cenário, com aumento significativo da sobrevida livre de progressão (HR 0,60; IC95% 0,45-0,80; P=0,0002). A taxa de resposta também foi superior no braço de pembrolizumabe (43,8% vs 33,1%).2 Pembrolizumabe ainda apresentou uma menor taxa de eventos adversos (22% vs 66% para eventos de grau ≥ 3).2 Com isso, observamos uma quebra de paradigmas. A imunoterapia torna-se um novo padrão-ouro na primeira linha de pacientes com câncer colorretal que apresentam MSI elevado.


A imunoterapia mostrou-se também eficaz no tratamento do carcinoma urotelial avançado, no estudo JAVELIN Bladder 100.3 Avelumabe, um anticorpo anti-PD-L1, foi avaliado no cenário de doença metastática após 4 a 6 ciclos de quimioterapia baseada em platina. Houve aumento significativo da sobrevida global com a adição de avelumabe (HR 0,69; IC95% 0,56-0,86; p=0,0005).3 A sobrevida mediana foi de 21,4 meses no braço de avelumabe, versus 14,3 meses no braço controle. Este benefício foi independente da expressão de PD-L1.3 Avelumabe apresentou uma maior taxa de eventos adversos; 47,4% dos pacientes tiveram eventos de grau ≥ 3.3 No entanto, este perfil de toxicidade estava dentro do esperado. Avelumabe é uma nova opção no campo da imunoterapia em pacientes com tumores urológicos, trazendo este benefício para uma fase mais precoce do tratamento, na terapia de manutenção.


No estudo E2108, os investigadores avaliaram o papel do controle local em mulheres com câncer de mama metastático.4 Após 4 a 8 meses de tratamento sistêmico, 256 pacientes foram submetidas à randomização para realizar ou não o tratamento local do tumor primário da mama.4 Não houve diferença na sobrevida global ou livre de progressão entre os dois braços. Tampouco houve melhora na qualidade de vida com a adição do controle local do tumor primário.4 Este estudo encerra um longo debate sobre a indicação do controle do tumor primário de mama em pacientes que já se apresentam com doença metastática. Em outras palavras, mais tratamentos nem sempre se traduzem em melhores desfechos.


Em neoplasias hematológicas, foram apresentados os resultados do estudo ENDURANCE. Pacientes recém-diagnosticados com mieloma múltiplo foram tratados no braço experimental de carfilzomibe, lenalidomina e dexametasona (KRd) ou no braço padrão de bortezomibe, lenalidomida e dexametasona (VRd).5 Carfilzomibe é um inibidor de proteassoma de nova geração com atividade promissora em estudos prévios.5 No entanto, não foi encontrado benefício no braço de carfilzomibe, sem diferença na sobrevida livre de progressão (HR 1,04; IC95% 0,8-1,3; p=0,74).5 Também não foi encontrada diferença na sobrevida global e o estudo foi interrompido por futilidade. VRd permanece como o tratamento padrão na primeira linha do mieloma múltiplo.


Em suma, o conhecimento na oncologia mostra-se dinâmico. Novos avanços acontecem graças aos esforços de pesquisadores e pacientes que participam de projetos de pesquisa em todo o mundo. Grandes estudos internacionais, colaborativos, permitem que um melhor conhecimento da doença se traduza em melhores resultados dos tratamentos, este cada vez mais individualizado – a chamada medicina personalizada.


Referências:


  1. https://meetinglibrary.asco.org/record/191929/abstract
  2. https://meetinglibrary.asco.org/record/186928/abstract
  3. https://meetinglibrary.asco.org/record/186872/abstract
  4. https://meetinglibrary.asco.org/record/186884/abstract
  5. https://meetinglibrary.asco.org/record/186906/abstract

 


 


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