Pólipos Endometriais

Pólipos Endometriais

Pólipos endometriais (PE) são projeções da mucosa endometrial, que podem apresentar base larga ou pediculada, ser único ou múltiplos, variar de alguns milímetros a alguns centímetros de tamanho. São geralmente lisos, regulares e com rede vascular pouco desenvolvida, contendo quantidade variável de glândulas e estroma. É uma doença benigna que afeta aproximadamente 25% das mulheres, sendo mais comum na pós-menopausa.


O uso ampliado de exames complementares na propedêutica ginecológica, como a ultrassonografia transvaginal, tem provocado aumento na suspeita clínica de pólipos endometriais. A literatura é controversa com relação ao tratamento dessas lesões.


O PE, em geral, é assintomático, sendo diagnosticado em exames de rotina, mas pode estar relacionado com sangramento uterino anormal (SUA), infertilidade e lesões pré-malignas e malignas do endométrio. Em pacientes com SUA, o pólipo endometrial está presente em 13 a 50% dos casos, manifestando-se como menorragia, sangramento intermenstrual, sinusiorragia ou sangramento pós-menopausa (figura 1). Acredita-se que o sangramento causado pelo PE esteja associado à congestão estromal, levando à estase venosa e necrose apical subsequente. É importante salientar que a presença de sintomas não está relacionada com o número de pólipos endometriais, tamanho ou localização.



Figura 1 – Pólipo endometrial com sinal de sangramento recente.


A origem do pólipo endometrial e sua patogênese ainda não são bem conhecidas, alguns fatores parecem estar relacionados com a progressão para lesão maligna, como idade avançada, alterações genéticas, tamanho do pólipo e sangramento associado. A prevalência de lesão maligna no PE varia de 0,5 a 3%.


A infertilidade pode estar relacionada com a oclusão do orifício interno pelo pólipo ou até mesmo dos óstios tubários, dificultando a migração dos espermatozoides. Além disso, a presença do pólipo leva a uma “inflamação local”, com consequente liberação de citocinas e metaloproteinases, que estão presentes em maiores concentrações nos pólipos do que no tecido uterino normal. O uso de gonadotrofinas em pacientes inférteis leva a um aumento dos níveis estrogênicos, promovendo maior predisposição ao desenvolvimento do pólipo endometrial.


Dentre as classificações dos pólipos endometriais, as que nos parecem mais adequadas para correlação com a visão histeroscópica seriam:


Fibrosos ou fibrocísticos (figura2): possuem características atróficas. Provável forma regressiva do pólipo funcional ou hiperplásico. O estroma fibroso predomina em relação ao conteúdo vascular e glandular. Mais frequentes em mulheres idosas.



Figura 2 – Pólipo endometrial fibrocístico


Funcionais ou mucosos (figura 3): apresentam modificações semelhantes ao endométrio que os circunda. Quando menores que 1 cm, podem descamar junto à menstruação e são considerados pseudopólipos. Os verdadeiros pólipos funcionais não descamam na menstruação.



Figura 3 – Pólipo endometrial mucoso.


Adenomatosos: o seu estroma é constituído principalmente por músculo liso.


Hiperplásicos (figura 4): exibem glândulas hiperplásicas, com ou sem dilatação cística. A hiperplasia caracteriza-se pela proliferação das glândulas endometriais, causando a redução da relação glândula/estroma. À visão histeroscópica, podem apresentar-se com vascularização aumentada e irregular.



Figura 4 – Pólipo endometrial hiperplásico.


A histeroscopia é o padrão-ouro no diagnóstico e no tratamento do pólipo endometrial. A biopsia dirigida permite o estudo anatomopatológico da região mais alterada do pólipo, com alta sensibilidade e especificidade para lesões malignas. No caso de pólipos com pedículos finos, é possível a polipectomia no mesmo tempo do diagnóstico, sem a necessidade de analgesia prévia.


A polipectomia histeroscópica é o método de escolha para excisão da lesão. A literatura suporta com alto grau de evidência (nível A) a conduta conservadora para pólipos pequenos < 10 mm e assintomáticos, considerando-se uma taxa de regressão de até 25%. No entanto, pacientes inférteis, assintomáticas, devem ser submetidas à polipectomia para permitir melhor resposta à concepção natural ou assistida (nível A). Em pacientes sintomáticas, a polipectomia deve ser realizada para resolução dos sintomas, e principalmente nas pacientes pós-menopausa, para estudo histológico da lesão.


Em nosso serviço, temos como rotina a realização de histeroscopia ambulatorial com camisa com canal operatório. Assim, sempre que possível, é realizada biopsia ou exérese da lesão no mesmo tempo do exame diagnóstico. Pólipos maiores são ressecados, utilizando-se instrumental de maior calibre, frequentemente com uso de energia térmica associada, necessitando, portanto, de analgesia e internação hospitalar.


Bibliografia


Costa-Paiva L, Godoy CE Jr, Antunes A Jr et al. Risk of malignancy in endometrial polyps in premenopausal and postmenopausal women according to clinicopathologic characteristics. Menopause. 2011 Dec;18(12):1278-82.


Kim KR, Peng R, Ro JY et al. A diagnostically useful histopathologic feature of endometrial polyp: the long axis of endometrial glands arranged parallel to surface epithelium. Am J Surg Pathol. 2004;28:1057-62.


Lasmar RB, Barrozo PR, Parente RC et al. Hysteroscopic evaluation in patients with infertility. Rev Bras Ginecol Obstet. 2010 Aug;32(8):393-7.


Lasmar RB, Dias R, Barrozo PR et al. Prevalence of hysteroscopic findings and histologic diagnoses in patients with abnormal uterine bleeding. Fertil Steril. 2008 Jun;89(6):1803-7. Epub 2007 Sep 2.


Lieng M, Istre O, Sandvik L et al. Prevalence, 1 year regression rate, and clinical significance of asymptomatic endometrial polyps: cross-sectional study. J Minim Invasive Gynecol. 2009 Jul-Aug;16(4):465-71.


Perez-Medina T, Martinez O, Folgueira G et al. Which endometrial polyps should be resected? J Am Assoc Gynecol Laparosc. 1999 Feb;6(1):71-4.


Peterson WF, Novak ER. Endometrial polyps. Obstet Gynecol. 1956; 8:40-9.


Rackow BW, Jorgensen E, Taylor HS. Endometrial polyps affect uterine receptivity. Fertil Steril. 2011 Jun 30;95(8):2690-2. Epub 2011 Jan 26.


 


 


Compartilhe: