SBI analisa o uso de hidroxicloroquina para COVID-19
- 26 de mar de 2020
Após a publicação recente de estudo francês no International Journal of Antimicrobial Agents, a SBI divulga os seguintes esclarecimentos:
1. A cloroquina é usada para malária e a hidroxicloroquina para artrite reumatoide e lúpus eritematoso, ambas registradas e aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para essas indicações.
2. Até o presente momento, não há medicamento comprovadamente seguro e eficaz para ser usado contra a infecção pelo novo coronavírus (COVID-19).
3. O estudo francês que mostrou “algum benefício“ para COVID-19 supracitado está sendo criticado cientificamente por apresentar várias limitações, incluindo ser um estudo aberto, não randomizado e que incluiu menos pacientes (apenas 42) do que os próprios autores calcularam.
4. Estudos experimentais in vitro mostraram que a cloroquina e a hidroxicloroquina podem apresentar atividade antiviral contra o novo coronavírus.
5. Vários antimicrobianos, incluindo antivirais, mostraram atividade experimental in vitro, mas falharam ao serem avaliados em pesquisas clínicas em humanos (in vivo).
6. A Sociedade Brasileira de Infectologia considera o uso da hidroxicloroquina para tratamento da COVID-19 como uma “terapia de salvamento experimental”. Seu uso deve ser individualizado e avaliado pelo médico prescritor, preferencialmente com a participação de um infectologista, avaliando seus possíveis efeitos colaterais e eventuais benefícios. Entre os principais efeitos adversos, destacam-se: discrasia sanguínea, distúrbios gastrintestinais (náuseas, vômitos, diarreia), fraqueza muscular, labilidade emocional, erupções cutâneas, cefaleia, turvação visual, descoloração do cabelo ou alopecia e tontura.
Recomendamos que, se usado, idealmente o seja na forma de estudo clínico aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) ou, para resguardar o médico prescritor, que pelo menos seu uso seja aprovado pelo Comitê de Ética do hospital, com termo de consentimento do paciente ou da família (paciente intubado). Como é uma medicação experimental para esta indicação (COVID-19), é importante que seu eventual uso seja dentro de um protocolo da instituição e que os resultados, tanto se forem positivos, como negativos, sejam relatados.
A SBI acha compreensível seu uso no paciente crítico, já que não há tratamento aprovado para COVID-19, mas manifesta sua preocupação que um tratamento experimental possa trazer mais danos do que benefícios para o paciente.
7. Contraindicamos seu uso para casos não críticos; tampouco como “profilático”.
8. Vários estudos clínicos estão em andamento no mundo e deveremos ter publicações de alguns deles nas próximas semanas ou poucos meses.
Fonte: CLÓVIS ARNS DA CUNHA -Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia