A descoberta do primeiro antiarrítmico

A descoberta do primeiro antiarrítmico

Por Dr. Eduardo Barbosa – No século 16, o rei espanhol, muito preocupado com suas colônias no Novo Mundo, resolveu enviar seu homem de confiança, o conde de Chinchon, para averiguar a situação de seus domínios. O conde levou sua esposa, a condessa de Chinchon. No Peru, a condessa contraiu uma febre muito estranha, desconhecida dos espanhóis. A saúde dela se agravou muito e um capitão espanhol que já estava há bastante tempo no local disse ao conde: “Essa febre é comum aqui, mas existe um xamã de uma tribo de nativos que faz, a partir de uma planta, um chá curativo”. O conde, a princípio, relutou em deixar sua esposa ingerir um chá feito pelos nativos. Todavia, a situação da condessa piorou bastante e a morte era considerada certa. O conde, então, rendeu-se e permitiu a vinda do xamã e o tratamento proposto.


O fato é que a condessa se curou e se encantou com aquela planta, cuja efusão lhe salvou. Os Chinchon voltaram para a Europa levando mudas da planta “miraculosa”, que, na Corte Espanhola, fez grande sucesso entre reis e rainhas de vários países. Como a realeza de diferentes países era formada por parentes, a história da condessa se difundiu e alcançou grande parte da Europa, fazendo surgir, então, um remédio para febres malignas. O gosto do chá era péssimo, mas especialistas conseguiram macerar a planta e refiná-la em pó, que ficou famoso e passou a ser chamado de “pó da condessa”.


Em pouco tempo, os europeus perceberam que o pó não tinha efeito nas febres locais, mas era muito útil como vermífugo, já que sua ingestão ocasionava vômitos e diarreia em excesso. Usar vermífugo era uma preocupação comum na época, e até hoje se observa essa cultura em decorrência da falta de saneamento básico em muitas cidades do Brasil.


No início do século 20, um renomado médico alemão radicado em Amsterdam atendeu um comerciante que relatou vir sentindo disparos violentos do coração havia meses. Alguns desses disparos passavam rápidos, enquanto outros perduravam horas e até dias. Contudo, o comerciante reparou que quando tomava o vermífugo durante um disparo, o coração voltava ao normal rapidamente. O médico observou em uma das consultas que a arritmia do comerciante era causada por fibrilação atrial e investigou o vermífugo com testes hipotéticos indutivos e comunicou seus resultados. Aproximadamente 40 anos depois surgiu a comercialização do primeiro antiarrítmico propriamente dito no mundo.


De volta ao século 16, a febre que a condessa sentia era a malária; a planta, hoje se sabe, é a Cinchona pubescens; o pseudoefeito vermífugo é o que chamamos hoje de chinchonismo (vômitos e diarreia). Além disso, o nome do médico alemão que possibilitou a produção da quinidina, estereoisômero do quinino (substância da planta), em meados do século 20 é Karel Wenckebach, o mesmo que descreveu o fenômeno de condução decremental do nódulo átrio ventricular.



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